O Estado de S. Paulo

De volta ao País, Arcade Fire faz crítica ao excesso em novo disco

Banda canadense se apresenta hoje no Rio e amanhã em SP, com repertório do álbum cuja ousadia dividiu opiniões

- Pedro Antunes

“Eu preciso de tudo agora / Eu quero tudo agora / Eu não posso viver sem tudo agora”. Com esse petardo, o Arcade Fire abre seu mais novo disco. A música em questão, Everything Now, dá nome ao 5.º e mais polêmico álbum da trupe canadense, lançado neste ano. Um álbum criado ao longo de um ano com a cara de 2017. Inclusive por ser extremo: ou se ama, ou se odeia – quer algo mais contemporâ­neo do que isso?

A grande banda do indie rock mundial a preservar sua identidade sem vendê-la demais para o circuito das rádios populares (ouviu, Coldplay) surgiu no mundo pós-Strokes e, após nova tomada do mainstream promovida pelo undergroun­d, vem sofrendo com a própria ousadia. Everything Now dividiu opiniões por ser um novo passo, mais uma vez ousado, na decisão estética do grupo. Com a produção de Thomas Bangalter, do Daft Punk, e Steve Mackey, do Pulp, o disco encontra saídas eletrônica­s, refrãos fervilhant­es e letras altamente melancólic­as. Houve (muita) gente que não gostasse.

A turnê de arenas pelos Estados Unidos sofreu com a recepção morna de Reflekor, um álbum também experiment­al, mas com melhor caimento. A trupe liderada por Win Butler não lotou estádios, como previsto. Agora, desembarca no Brasil também com questões a provar. A apresentaç­ão no Rio, nesta sexta-feira, 8, por exemplo, teve seu local alterado. Foi transferid­o da Jeunesse Arena, que abrigou 18 mil pessoas, para a Fundição Progresso, cuja capacidade é de 5 mil pessoas. Em São Paulo, a banda se apresenta na Arena Anhembi, no sábado, 9. Há ingressos para as duas datas.

“Acho as críticas curiosas”, explicou Tim Kingsbury, em entrevista ao Estado, por telefone, no fim de novembro, durante um breve período de descanso, no intervalo da turnê. “As pessoas gostariam que a gente se mantivesse na fase de Funeral ou Suburbs (discos de 2004 e 2010, respectiva­mente). Eu não gosto disso, exatamente. Gosto de bandas que mudam. E alguns discos delas, eu gosto, outros não. É assim.”

Se repetir o que tem feito na turnê latina nesta terceira vinda ao País, o Arcade Fire dedicará seis canções, de um total de 22, ao novo álbum (são elas: Creature Comfort , Electic Blue , Everything Now, Everything Now (Continued), Put Your Money on Me e We Don’t Deserve Love). A fatia dedicada ao novo álbum – o motivo desse giro, afinal – é maior do que o tempo dedicado aos outros discos.

E, em tempos de celulares erguidos a filmar apresentaç­ões ao vivo, o teor das músicas, uma crítica ao excesso de informação e à superficia­lidade das relações com o mundo real, parece perfeito. Será uma ironia das boas. “Não sei dizer se é um disco pessimista”, analisa Kingsbury, “porque vejo esse disco como uma combinação, algo trágico e otimista. É, acima de tudo, uma celebração sobre a relação entre as pessoas.”

ARCADE FIRE EM SÃO PAULO Arena Anhembi. Av. Olavo Fontoura, 1.209, Santana. Amanhã (9), às 21h30. R$ 135 / R$ 520. Abertura: Bomba Estéreo, às 20h.

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GUY AROCH A trupe reunida. Retorna ao Brasil pela terceira vez

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