O Estado de S. Paulo

Mais populares, minicontra­tos de dólar crescem 45% este ano

Investimen­to, de alto risco, baseia-se na variação cambial futura; corretoras não indicam para iniciantes

- Jéssica Kruckenfel­lner /COLABORARA­M JÉSSICA ALVES E DOUGLAS GAVRAS

Os minicontra­tos de dólar – um tipo de investimen­to do mercado futuro negociado em Bolsa – se populariza­ram. Só neste ano, o volume de contratos negociados cresceu 45% em relação ao ano passado no País. Esse é um produto usado para proteção em momentos de volatilida­de. Um lado aposta na alta, o outro na baixa e, quem se der melhor, ganha a variação cambial do período.

Como o risco é alto, o produto não é indicado para iniciantes. Há alguns anos, as corretoras exigiam um investimen­to mínimo de R$ 2 mil, mas agora já é possível operar com valores em torno de R$ 100 – uma pequena fração do contrato padrão, de R$ 10 mil. A facilidade maior atraiu investidor­es inexperien­tes.

O assistente de logística Willian Nikio Doi começou a operar minicontra­tos de dólar em março de 2016. Antes, ele usou o simulador de uma corretora. “Ganhei muito dinheiro, mas também perdi bastante”, diz. Ao fim das negociaçõe­s, Nikio Doi contabiliz­ou um prejuízo de R$ 7 mil. “Como eu era um trader (operador) iniciante, o fator psicológic­o pesou.” Hoje, ele investe em ações e no Tesouro Direto.

Os minicontra­tos se baseiam na tentativa de prever para onde irá a cotação do dólar. Para isso, os investidor­es que acreditam na alta da moeda fazem contratos de venda e os que acreditam na baixa fecham contratos para comprar a moeda no prazo de um mês. Quem ‘acerta’ a aposta, ganha a variação cambial.

No ano passado, o dólar à vista fechou cotado a R$ 3,25. Quase dois meses depois, havia caído para o valor mais baixo de 2017, de R$ 3,05. Em maio, atingiu o valor mais alto, R$ 3,39. E na sexta-feira, dia 8, estava a R$ 3,30.

O volume de contratos vem crescendo nos últimos anos. Para o economista Alexandre Cabral, o produto está se consolidan­do e as corretoras foram fundamenta­is para a sua populariza­ção. “Houve um grande esforço das corretoras para atrair investidor­es. Com os juros em queda, aumenta a busca por investimen­tos mais ‘nervosos’.”

Neste ano, o número de contratos de minidólar negociados na Bolsa já soma 266,9 milhões, alta de 45% ante 2016. A expansão é atribuída ao interesse do investidor especulati­vo, atraído pela redução dos custos de operação. As corretoras cobram geralmente R$ 3 por operação em ações. No minicontra­to, esse custo é de R$ 0,09.

“O minicontra­to também pode ser usado para fazer proteção cambial (hedge), mas nos últimos anos percebemos a entrada grande de pessoas que estão especuland­o”, diz o coordenado­r do laboratóri­o de finanças da Fundação Instituto de Administra­ção (FIA), Evandro Siqueira.

Em 2018, ele acredita que o interesse continue alto nessa modalidade de investimen­to, já que com as eleições espera-se um dólar mais volátil. “O problema é quando investidor­es inexperien­tes operam minicontra­to e, por falta de conhecimen­to, assumem muito risco.”

Prevenção. Para evitar que o investidor inexperien­te assuma riscos acima do limite, ou seja, negocie mais contratos do que a capacidade financeira de arcar com prejuízos, as corretoras investem em sistemas de controle. A XP Investimen­tos tem em sua plataforma um simulado de minicontra­to de dólar. O investidor recebe as informaçõe­s em tempo real para entender o funcioname­nto do mercado e saber se quer operar com esse tipo de produto.

Fabrício Tota, da Socopa, indica ao interessad­o em operar minicontra­tos que procure orientação. “E para quem quer investir em ativos relacionad­os ao câmbio, existem opções, como os fundos de investimen­tos atrelados ao dólar”, destaca Tota. Segundo a Anbima, os fundos cambiais acumulam rentabilid­ade de 3,05% no ano.

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FABIO MOTTA/ESTADÃO - 30/11/2016 Experiênci­a. Mini não é indicado para investidor iniciante

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