O Estado de S. Paulo

As contradiçõ­es do detetive Harry Hole, de ‘Boneco de Neve’

O escritor norueguês Jo Nesbo falou ao ‘Estado’ sobre o livro, que virou filme de mesmo nome, e sobre a sede de vingança do personagem

- Guilherme Osinski ESPECIAL PARA O ESTADO

Um longo voo entre Oslo, capital da Noruega, e Sydney, na Austrália. Foi assim, em 1997, que o escritor norueguês Jo Nesbo começou a dar vida ao detetive Harry Hole, protagonis­ta de uma série de 11 livros policiais, entre eles Boneco de Neve, romance que deu origem ao filme homônimo lançado em 23 de novembro no Brasil.

Há 20 anos, Nesbo trabalhava na produção do primeiro grande caso de Harry Hole, O Morcego, pensando mais na história do que no próprio personagem. Porém, ao chegar a solo australian­o, pôde visualizar as caracterís­ticas do detetive norueguês, uma combinação entre ex-treinador de um clube do futebol local e ninguém mais e ninguém menos que o Batman, super-herói da DC Comics. “À época, estava lendo as histórias de Frank Miller (autor de histórias em quadrinhos) e fui inspirado pelo Batman, porque de um lado ele é defensor da lei e do que é justo, mas do outro é um vingador sem nenhuma misericórd­ia”, conta, sem esquecer que Harry e o protetor de Gotham City têm em comum a sede por vingança causada por motivos pessoais.

Harry Hole é considerad­o um personagem de contradiçõ­es para Nesbo. Por um lado, uma pessoa muito emocional com relação ao trabalho e às mulheres. Ao mesmo tempo, um homem frio e com ótimo senso de observação. “Ele é romântico, cínico e tem o dom para pegar assassinos, mas odeia seu trabalho de muitas maneiras”, revela o autor. Como consequênc­ia de suas contradiçõ­es, os leitores muitas vezes não sabem o próximo passo de Harry, principalm­ente quando Nesbo o expõe a dilemas que o forçam a tomar alguma decisão.

Em Boneco de Neve, o sétimo volume da série de Harry Hole, o detetive e sua nova parceira de trabalho, Katrine Bratt, perseguem um serial killer responsáve­l pelas mortes de várias mulheres em Oslo. Para Nesbo, o que difere esse livro dos primeiros é que agora pessoas próximas a Harry são fundamenta­is na história. “Antes, ele era como um fotógrafo, atrás da câmera, por meio da qual podíamos ver o caso. Depois, se tornou o centro das atenções, se colocou na frente da câmera e em Boneco de Neve é tudo pessoal”.

Jo Nesbo afirma que o título surgiu quando tentava encontrar o nome para um filme de terror produzido por um amigo. Segundo o escritor, a intenção era evocar memórias felizes da infância, já que a ideia de que a vida é uma soma de caos e eventos sem significad­o é frustrante. “Nós criamos rituais, tradições, porque procuramos uma ordem ilusória e gosto do fato de o assassino ter a mesma necessidad­e”, lembrando ainda que o serial killer de Boneco de Neve sempre avisa quem são suas vítimas.

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RUTH FREMSON/THE NEW YORK TIMES Nesbo. Livro virou filme com o astro Michael Fassbender

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