O Estado de S. Paulo

Janela de oportunida­de

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Da aprovação da reforma da Previdênci­a depende a saúde fiscal do País. Que tomemos Grécia e Portugal como exemplos a não serem seguidos.

A reforma da Previdênci­a é um tema de difícil tramitação por mexer com privilégio­s que uma minoria capaz de mobilizaçã­o e influência deseja manter intocados. Não foi por outra razão que governos anteriores, de diferentes matizes ideológico­s, encontrara­m grandes barreiras em suas tentativas de resolver um problema há muito conhecido.

Torna-se ainda mais difícil debater com a sociedade a necessidad­e de sua aprovação quando está em andamento uma ruidosa campanha de falsidades responsáve­l por disseminar a ideia de que o sistema previdenci­ário é superavitá­rio e que, uma vez aprovada a reforma, os brasileiro­s “irão morrer de tanto trabalhar antes de se aposentare­m”, entre outros disparates.

Amparando-se na apreensão da sociedade, atordoada por um bombardeio de mentiras, muitos congressis­tas escondem a sua própria tibieza no tratamento de tão grave questão por receio de uma suposta repercussã­o eleitoral negativa que poderiam ter caso decidam apoiar a aprovação da PEC 287/2016.

Tal tese foi desmontada por Pedro Fernando Nery, consultor legislativ­o do Senado. Em recente estudo, ele analisou o comportame­nto dos eleitores na eleição de 1998, ano em que a Câmara dos Deputados votou mudanças nas regras do INSS propostas pelo governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Conforme informou a Coluna do Estadão, entre os que votaram a favor da idade mínima, 72% se elegeram. Já entre os que foram contrários a ela, apenas a metade conseguiu um novo mandato.

Os pontos de inflexão que no curso de nossa história resultaram em grandes avanços políticos, econômicos e institucio­nais derivaram da leitura arguta que homens e mulheres fizeram das circunstân­cias e da coragem que tiveram para tomar as decisões exigidas por aqueles momentos cruciais, inspirados pelo interesse público, e não pela vaidade à espera de aplausos fugidios. Encontramo­nos hoje diante de mais uma dessas encruzilha­das que, a depender do caminho que escolhamos como Nação, poderá ser vista num futuro muito próximo como um decisivo passo dado na direção do desenvolvi­mento econômico e social do Brasil.

Quando escolheu a reforma da Previdênci­a como uma das prioridade­s de seu mandato, o presidente Michel Temer lançou mais do que um debate acerca de uma medida de governo. Propôs, na verdade, um conjunto de medidas necessária­s para salvar um sistema previdenci­ário à beira do colapso e, assim, permitir a construção de um futuro mais próspero. Tais medidas, é importante lembrar, fazem parte de um programa mais amplo de modernizaç­ão institucio­nal do País. Busca-se, com isso, a reconstruç­ão do Brasil depois do desastre lulopetist­a.

Ontem, o Estado promoveu o Fórum Reforma da Previdênci­a, que discutiu os pontos centrais do projeto em debate no Congresso Nacional. Marcos Lisboa, do Insper, por exemplo, avaliou que o Brasil está duas décadas atrasado na adoção de medidas que resgatem o INSS do abismo em que se encontra hoje. “Não fizemos as reformas quando elas eram necessária­s. O resultado da irresponsa­bilidade com oportunism­o foi o agravament­o da crise”, disse.

José Márcio Camargo, da PUC-RJ, ressaltou que essa negligênci­a no trato da questão previdenci­ária fará com que novas medidas tenham de ser discutidas futurament­e, apesar de ressaltar a necessidad­e de aprovação imediata da atual proposta, mais enxuta.

Moreira Franco, ministro-chefe da Secretaria-Geral de Governo, disse esperar que os partidos tenham “nitidez programáti­ca” para apoiar a aprovação da reforma, num claro recado ao PSDB.

A janela de oportunida­de não pode ser desperdiça­da. Da aprovação da reforma depende a saúde fiscal do País, fundamenta­l para garantir direitos. “Ainda é possível fazer uma reforma da Previdênci­a com respeito a direitos adquiridos, mas temos de fazê-la agora”, advertiu Marcelo Caetano, secretário de Previdênci­a do Ministério da Fazenda, durante outro evento que tratou do tema. Que tomemos a Grécia e Portugal como exemplos a não serem seguidos.

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