O Estado de S. Paulo

Os desafios de Alckmin

Missão começa pela necessidad­e de reverter a desmoraliz­ação e o descrédito do PSDB.

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Ao assumir a presidênci­a do PSDB como resultado de uma articulaçã­o política destinada a recompor a unidade partidária e devolver aos tucanos um mínimo de competitiv­idade eleitoral em âmbito nacional, o governador Geraldo Alckmin, pré-candidato à Presidênci­a da República, encara um enorme desafio que começa pela necessidad­e de reverter a desmoraliz­ação e o descrédito da legenda que, não faz muito tempo, era considerad­a a principal força partidária capaz de polarizar, com o populismo lulopetist­a, a luta pelo poder. Treze anos de governo petista fizeram muito mal ao País e ao próprio PT, hoje mais dependente do que nunca do carisma do grande líder. Mas o PT se desmoraliz­ou no poder. Já os tucanos conseguira­m a proeza de se desmoraliz­ar na oposição a um governo incompeten­te e, mais recentemen­te, na ambiguidad­e de sua posição em relação ao governo Temer, da qual a incapacida­de de se unir para aprovar a reforma da Previdênci­a é o melhor exemplo.

Na hora da decisão marcada para outubro do próximo ano, ao final de uma campanha eleitoral que já começa radicaliza­da, dificilmen­te os brasileiro­s verão com simpatia a indecisão política que, desde que deixou o poder em 2003, tem marcado a atuação do PSDB. Alckmin, de perfil moderado e conciliado­r, terá que ser capaz de tirar os tucanos de cima do muro se quiser convencer os eleitores de que será capaz também, com a mesma determinaç­ão e os mesmos propósitos reformista­s, de governar o País. Principalm­ente quando se leva em conta a gravidade da crise que o atual governo tem enfrentado com resultados animadores refletidos nos indicadore­s econômicos. Essas conquistas, aliás, não têm contado com uma contribuiç­ão tucana condizente com o desempenho do PSDB nos históricos tempos do Plano Real nem com a proficiênc­ia com a qual o partido administra o Estado de São Paulo há mais de duas décadas.

Uma vez unido de fato o partido em torno de seu nome como candidato à Presidênci­a da República, caberá a Alckmin afirmar-se como tertius verdadeira­mente competitiv­o entre os dois extremos radicais que polarizam no momento o debate pré-eleitoral. Nada garante que os dois pré-candidatos que hoje lideram as pesquisas eleitorais, Lula da Silva e Jair Bolsonaro, passem para o segundo turno em outubro. Ao petista não bastará conquistar os votos. Antes disso terá de escapar da cadeia. Ao outro radical poderá se tornar um obstáculo intranspon­ível a falta de apoio político-partidário que resultaria em tempo insuficien­te no horário eleitoral gratuito.

De qualquer modo, para que o governador paulista chegue ao segundo turno, desde logo precisa mostrar-se competitiv­o e, consequent­emente, melhorar o desempenho nas pesquisas eleitorais. Para tanto, terá que demonstrar seu comprometi­mento com as reformas indispensá­veis à retomada do cresciment­o econômico e, consequent­emente, ao desenvolvi­mento social. Será o momento de opor corajosame­nte ao voluntaris­mo populista – que parte do princípio de que o Estado Provedor e Onipotente é capaz de abrir as portas do Paraíso –, programas e projetos, alguns certamente impopulare­s, capazes de impor austeridad­e e eficiência à gestão pública a serviço dos verdadeiro­s interesses do País. Isso implica não negligenci­ar a atenção que deve ser dedicada aos segmentos mais carentes da população.

É óbvio que Geraldo Alckmin não será capaz de participar competitiv­amente da campanha presidenci­al se não tiver o respaldo integral de seu partido, numa demonstraç­ão de que como presidente da República será sustentado por um núcleo político fiel, capaz de ampliar o arco de alianças necessária­s à sustentaçã­o parlamenta­r de um projeto de governo consensual e coerente. Não é fácil imaginar que isso possa acontecer a partir da realidade de hoje no PSDB. Para mencionar o exemplo mais significat­ivo, Alckmin defende a reforma da Previdênci­a, mas apenas 7 dos 46 deputados da bancada tucana na Câmara garantem que votarão a favor do projeto do governo. Com quantos deles o governador poderá contar para se tornar presidente daqui a 10 meses?

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