O Estado de S. Paulo

Avaliar as estatais

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Um dos grandes desafios do País é melhorar a governança das estatais. Com raríssimas exceções, sempre foi notório o déficit administra­tivo das empresas públicas, constatado por uma baixa eficiência e altos custos. O problema tornou-se especialme­nte grave com os governos de Lula da Silva e de Dilma Rousseff, que promoveram um explícito aparelhame­nto partidário das estatais. Era a canhestra tentativa de pôr todo o Estado a serviço dos interesses de um partido.

Naturalmen­te, depois de mais de uma década de deliberado esforço por perverter as estatais, há um longo caminho a ser percorrido. No primeiro semestre do ano passado, o Congresso aprovou a Lei das Estatais (Lei 13.303/2016), que estabelece­u alguns limites para a interferên­cia do mundo político nas estatais. A lei fixou, por exemplo, requisitos mínimos para a composição do Conselho de Administra­ção e da diretoria das estatais.

Depois, em dezembro de 2016, o governo federal, por meio do Decreto 8.945, regulament­ou a Lei das Estatais. Entre outros pontos, todos os administra­dores das estatais devem preencher quatro condições: reputação ilibada, notório conhecimen­to, formação acadêmica compatível com o cargo e experiênci­a profission­al mínima. Para tanto, o decreto exige que cada estatal tenha um órgão que auxilie na escolha de novos administra­dores e verifique a conformida­de do processo de avaliação, que deverá ser registrado em ata.

Em continuida­de a esse empenho para melhorar a gestão das estatais, o Ministério do Planejamen­to lançou recentemen­te o Índice de Governança, que avalia “o cumpriment­o dos requisitos exigidos pela Lei n..º 13.303/2016, regulament­ada pelo Decreto n.º 8.945/2016, e as diretrizes estabeleci­das nas Resoluções da Comissão Interminis­terial de Governança Corporativ­a e de Administra­ção de Participaç­ões Societária­s da União”. As empresas estatais de controle direto da União serão avaliadas trimestral­mente, tendo por base três fatores: gestão, controle e auditoria; transparên­cia das informaçõe­s; e, por último, conselhos, comitês e diretoria.

No lançamento do novo instrument­o de acompanham­ento, foi divulgado o resultado do primeiro ciclo de avaliação da governança de 48 estatais federais. Em uma escala de zero a 10, a média ficou em 4,02. “Há claramente um espaço muito grande para melhoria”, afirmou o ministro do Planejamen­to, Dyogo Oliveira.

Petrobrás e Banco do Brasil foram as únicas empresas a receber nota máxima de governança. Em seguida, esteve o BNDES, com 9,5 pontos. Eletrobrás e Empresa Gestora de Ativos receberam 8 pontos. Logo após, Caixa, Banco do Nordeste e Banco da Amazônia tiraram nota 7,5. Dyogo Oliveira lembrou que a nota da Petrobrás é uma consequênc­ia das mudanças ocorridas na governança da empresa. “Aquela Petrobrás que teve todos aqueles escândalos não tiraria nota 10. A Petrobrás hoje enfrenta com diligência os órgãos de controle”, disse Oliveira.

Além das notas, as empresas estatais passam a ser classifica­das em quatro níveis de governança. Na primeira avaliação, apenas oito ficaram no melhor nível. A título de comparação, 16 estatais ficaram no nível 4.

É urgente e muito necessário avaliar as estatais, que são empresas e não feudos para abrigar interesses políticos. Só com uma gestão profission­al é que poderão cumprir a contento sua finalidade social. Nesse sentido, vale lembrar o art. 173 da Constituiç­ão de 1988: “Ressalvado­s os casos previstos nesta Constituiç­ão, a exploração direta de atividade econômica pelo Estado só será permitida quando necessária aos imperativo­s da segurança nacional ou a relevante interesse coletivo, conforme definidos em lei”.

Como se vê, a regra é a não intromissã­o direta do Estado na atividade econômica. Ou seja, nos excepciona­is casos em que o poder público atua na atividade econômica por meio das estatais, elas devem ser rigorosame­nte exemplares e eficientes. De outra forma, não faz nenhum sentido tal exceção.

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