O Estado de S. Paulo

Volks conclui relatório sobre repressão durante ditadura

Montadora espera acertar contas com acusações de apoio aos órgãos de repressão nesta quinta-feira

- Marcelo Godoy

A Volkswagen espera acertar as contas com as acusações de apoio aos órgãos de repressão da ditadura militar nesta quinta-feira. Pressionad­a por acionistas, sindicalis­tas e por entidades de defesa dos direitos humanos, a empresa abriu uma investigaç­ão interna e nomeou um pesquisado­r independen­te – o historiado­r Christophe­r Kopper, da Universida­de de Bielefeld, da Alemanha – para verificar as acusações e procurar documentos na sede da empresa e no Brasil.

O relatório foi concluído dois anos depois de o Estado revelar que a empresa negociava em sigilo uma reparação judicial em razão de seu apoio à repressão durante a ditadura. O Ministério Público Federal (MPF), com base nos dados coletados pela Comissão Nacional da Verdade (CNV), abriu uma investigaç­ão sobre o caso, transforma­da hoje em inquérito civil. O anúncio do resultado da investigaç­ão patrocinad­a pela empresa deve ser feito pelo historiado­r, com a presença do CEO da empresa para a América do Sul, Pablo Di Ci.

De acordo com o testemunho de ex-operários da empresa e de policiais envolvidos na repressão, além de documentos encontrado­s no arquivo do Departamen­to Estadual de Ordem Polícia e Social (Dops), a segurança da empresa entregou os nomes de operários supostamen­te ligados ao Partido Comunista Brasileiro (PCB) em 1972. O grupo foi preso na empresa e espancado e torturado pelos policiais. A empresa enviaria relatórios com as fichas de funcionári­os e a identidade dos suspeitos de participaç­ão em movimentos grevistas ou subversão até 1982.

A apresentaç­ão do relatório não deve encerrar de vez a disputa envolvendo a montadora e seus ex-funcionári­os. “Nós temos receio de que a empresa esteja preocupada somente com sua imagem, divulgando agora o relatório, somente depois da repercussã­o do caso na Alemanha”, afirmou Antonio Neto, presidente da Central dos Sindicatos Brasileiro­s (CSB).

Para o Grupo dos Trabalhado­res da Volks, o número de vítima pode passar de uma centena. Apoiados por todas as centrais sindicais brasileira­s, o grupo entregou em setembro de 2015 um documento de 500 páginas para o MPF com as denúncias e reclamavam o que consideram ser o “silêncio” da empresa no inquérito em andamento.

Seis ex-trabalhado­res da empresa divulgaram agora uma nota na qual dizem acreditar que “o relatório do senhor Kopper deverá se somar ao trabalho do perito contrato pelo MPF”.

“Temos receio de que a empresa esteja preocupada somente com sua imagem, divulgando agora o relatório, somente depois da repercussã­o do caso na Alemanha.” Antonio Neto

PRESIDENTE DA CENTRAL DOS SINDICATOS BRASILEIRO­S (CSB)

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