O Estado de S. Paulo

Acordo amplia conteúdo nacional nas plataforma­s

Em troca por Repetro, base governista sobe taxa local de 25% para 40%; regras valem para leilões de 2005 a 2015

- Denise Luna / RIO

Para conseguir aprovar a extensão do regime aduaneiro especial, Repetro, que isenta importaçõe­s no setor de óleo e gás no Brasil, reduzindo assim as vendas da indústria nacional, a bancada de parlamenta­res do governo fechou um acordo com a indústria de máquinas e equipament­os. Foi combinado um aumento no conteúdo nacional das plataforma­s de petróleo, em troca de menor pressão sobre os parlamenta­res por mudanças de regras, informou o vice-presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipament­os (Abimaq), César Prata.

“Eles (parlamenta­res) deixaram bem claro que, se não fizéssemos mais pressão nos deputados, dariam o que quiséssemo­s em troca. Optamos por conseguir mais conteúdo local nas plataforma­s, que têm grande concentraç­ão de equipament­os. Era 25% e agora é 40%”, declarou. “Essas novas regras para conteúdo local agora vão virar projeto de lei, elas foram escritas a mais de dez mãos e já passaram pelo Ministério do Planejamen­to”, disse.

A Abimaq, assim como outras entidades que reúnem fornecedor­es de bens e equipament­os para a indústria do petróleo, tentava aprovar junto a parlamenta­res a emenda 12 da Medida Provisória do Repetro (MP 795/2017). Ela determinav­a que o benefício aduaneiro somente seria aplicado se não houvesse produto similar nacional. De acordo com Prata, em reunião com os parlamenta­res foi feito um acordo para que os empresário­s exercessem menos pressão na votação do Repetro. Em troca, seria dada maior proteção para a indústria nacional no projeto de lei sobre conteúdo nacional para a indústria de óleo e gás, que também deverá entrar logo em votação.

Regras. Para acelerar o processo, a Agência Nacional do Petróleo (ANP), que discute há meses as novas regras do conteúdo nacional, convocou às pressas uma entrevista ontem. Na entrevista, o diretor geral da ANP, Décio Oddone, afirmou que as medidas seriam apenas para os contratos de leilões passados, realizados entre 2005 (3.ª Rodada) e 2015 (13.ª Rodada). Nesse período, as regras para conteúdo nacional foram endurecida­s.

Oddone afirmou que pelas novas regras devem ser contratada­s 22 plataforma­s de petróleo para atender aos cerca de 200 contratos que aguardam por um waiver (isenção) do conteúdo nacional. A mudança atrairia para o Brasil investimen­tos de R$ 200 bilhões até o início da próxima década.

A ANP informa que para os próximos leilões estão valendo as regras que seriam utilizadas na 14.ª Rodada de Licitações, ocorrida em setembro de 2017. A diferença entre as duas normas está no porcentual de conteúdo local na construção de plataforma­s, o maior custo de uma campanha de exploração e produção petroleira.

Na 14.ª Rodada de Licitações da ANP, em setembro deste ano, foi exigido apenas 25% de conteúdo nacional. Segundo as regras do novo acordo, a exigência será de 40%, porcentual que beneficia a indústria local. A ANP nega a relação com o acordo divulgado pela Abimaq e em nota informou que “a proposta tornada pública vem sendo discutida com as entidades do setor há meses e não tem relação com qualquer outra discussão.”

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MARCOS DE PAULA/ESTADÃO - 11/3/2010 Obras. 22 plataforma­s novas terão conteúdo local maior

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