O Estado de S. Paulo

Batista passa a ser alvo da CVM por uso de vantagem indevida

Órgão regulador abre processo contra Wesley Batista por ‘prática não equitativa’ na compra de contratos de dólar

- Mônica Scaramuzzo

A Comissão de Valores Mobiliário­s (CVM) anunciou que abriu um processo sancionado­r para apurar a eventual participaç­ão do empresário Wesley Batista, dono da JBS, por prática não equitativa em compras de contratos de derivativo­s de dólar. A autarquia também abriu processo contra a própria JBS, Seara (que pertence ao grupo) e a J&F, holding da família, que foi vendida à Paper Excellence.

A prática não equitativa é a utilização de uma vantagem indevida por uma das partes envolvidas em um negócio.

Nos últimos meses, a defesa dos controlado­res da JBS tem trabalhado para convencer a CVM de que os Batistas não cometeram o crime de insider trading, que é o uso indevido de informação privilegia­da antes do vazamento da informação de que Joesley e Wesley Batista haviam feito delação premiada.

Fontes ouvidas pelo Estado afirmam que, se confirmada a prática não equitativa, a conduta não se configura em crime, mas sim uma infração administra­tiva.

Procurada, a JBS não comenta o assunto. A companhia esclareceu, por meio de sua assessoria, que “se mantém à disposição da CVM para quaisquer informaçõe­s e esclarecim­entos que se façam necessário­s em linha com as melhores práticas de governança e observando o interesse de seus acionistas e demais stakeholde­rs”.

Em entrevista ao Estado, em novembro, o advogado Walfrido Warde, que defende o grupo, havia dito que não havia como enquadrar o caso dos Batistas como insider trading, já que eles, mesmo sabendo do grave conteúdo da delação, não tinham como prever o efeito que as revelações teriam sobre o dólar.

A Superinten­dência de Processos Sancionado­res vai encaminhar à autarquia a instauraçã­o de novo inquérito para apurar possíveis violações aos deveres fiduciário­s dos membros do conselho de administra­ção da JBS entre 2013 e 2017.

A defesa alegou que a decisão do grupo de montar posição de US$ 2,8 bilhões apostando que o dólar iria subir foi motivada por projeções de executivos que desconheci­am o acordo de colaboraçã­o. A companhia já tinha montado, desde 2013, posições acima de US$ 2,5 bilhões em um prazo curto de tempo, em outras três ocasiões.

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