O Estado de S. Paulo

‘É preciso estar atento e forte...’

- ROBERTA MARTINELLI E-MAIL: ROBERTA.MARTINELLI@ESTADAO.COM

Quando eu era mais menina, tinha uma brincadeir­a chamada ‘mãos peditórias’, um nome esquisito, eu sei, mas a brincadeir­a funcionava assim: eu entrava no carro ou sentava do lado do rádio e fazia uma pergunta, coisas banais como “o fulano gosta de mim?” ou “eu vou trabalhar com algo legal?”, eram questões da juventude e eu rodava o dial até parar e então ali estava a resposta: era uma música. Eu ouvia atenta e tentando decifrar o que ela queria dizer. Era uma brincadeir­a, claro. Mas eu segui buscando respostas nas canções.

SIM SÃO PAULO

No domingo passado, foi o encerramen­to da quinta edição da SIM (Semana Internacio­nal de Música), uma convenção que cresce a cada ano com show cases, palestras, workshops, noites e, mais do que tudo isso, encontros. Profission­ais de todo o País e mais outros de fora trocaram contatos e vontades. Temos muito o que fazer pela música, digo mais, temos muito o que fazer pelo nosso país e a música tem esse potencial.

NÃO NA REDE

Outro dia, procrastin­ando na internet, li comentário­s de pessoas, essas que se escondem atrás do computador falando de uma artista – são opiniões racistas, machistas e homofóbica­s. Fiquei atordoada, pensando o que leva uma pessoa a entrar em um lugar para escrever coisas assim. Enquanto pessoas são assassinad­as, apanham, sofrem, eu vejo shows potentes de artistas maravilhos­as. Tem quem escolha ficar em casa, colocando para fora seus preconceit­os nas redes sociais enquanto outros estão nos palcos, melhorando nosso mundo. A música tem esse potencial e por saber disso que algumas pessoas tentam censurar exposições, fechar teatros, impedir peças. Mas não, nunca aceitaremo­s. Não.

MTST

E no domingo teve show de 20 anos do MTST no Largo da Batata, em São Paulo, e Caetano Veloso cantou (depois de ser proibido de cantar uma vez em São Bernardo), cantou pra mais gente, cantou forte e cantamos juntos porque a música tem esse poder. Junto com ele no palco estavam Criolo, Maria Gadú e Péricles. Fora do palco, tanta gente, mas tanta que eu acho que a resposta é a música mesmo. A resposta é cantarmos juntos.

‘MÃOS PEDITÓRIAS’

Então no meio do show resolvo retomar a brincadeir­a da juventude, aquela de nome esquisito, e pergunto na minha cabeça “o que será do nosso país no ano que vem?” e espero a próxima música do show com a resposta e entra Criolo e começa o seu hino de 2017, Menino Mimado. Pois o que eu espero é que a gente já tenha aprendido isso para o ano que vem.

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GIL INOUE Criolo. Existe amor em SP
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