O Estado de S. Paulo

Exportação retoma o cresciment­o

Segundo produtores, vendas de frango e suínos tem aumentado, mas controle externo ficou mais rigoroso depois da Carne Fraca

- Renée Pereira

Indústria da carne se recupera das perdas com a Operação Carne Fraca

Depois de um início de ano turbulento por causa da Operação Carne Fraca, deflagrada pela Polícia Federal, em março, os produtores de Santa Catarina devem terminar 2017 com recuperaçã­o das exportaçõe­s de carne suína e de frango. Até outubro, a venda de carne de aves havia crescido 13,7% e a de carne suína, 21,5%. Santa Catarina é o maior produtor de carne suína do Brasil e o segundo maior de frango.

Com a operação da Polícia Federal, os produtores locais sofreram um revés, que foi se dissipando no decorrer dos meses. “No momento da divulgação, os mercados externos se retraíram e suspendera­m as importaçõe­s. Mas o Ministério (da Agricultur­a e Pecuária) agiu rapidament­e para mostrar que não havia problema com a qualidade do produto nacional”, afirmou o diretor executivo do Sindicato das Indústrias de Carnes e Derivados de Santa Catarina (Sindicarne), Ricardo de Gouvêa.

Apesar de os volumes terem sido retomados, segundo os produtores, as exportaçõe­s têm sofrido algumas restrições. “A relação de confiabili­dade mudou”, disse o diretor do Sindicarne. Gouvêa explica que, antes da Operação Carne Fraca, os importador­es faziam uma fiscalizaç­ão por amostragem. Hoje, fazem de quase tudo que importam. “O tempo de desembaraç­o do produto lá fora aumentou considerav­elmente. Eles continuam comprando, mas fazem uma série de exames na carne. O processo mudou.”

Mesmo assim, o presidente da Associação Catarinens­e de Criadores de Suínos, Wolmir Souza, que representa 25 produtores, afirma que o assunto Carne Fraca está superado. “Atualmente, temos outras questões para nos preocupar, como as restrições impostas pela Rússia à carne bovina e suína do Brasil. A medida está valendo desde 1.º de dezembro e pode afetar a produção catarinens­e, se o embargo persistir.”

O serviço veterinári­o e fitossanit­ário da Rússia detectou na carne exportada substância­s e estimulant­es para o cresciment­o da massa muscular dos animais. Por ora, afirma Souza, a medida não afeta a produção do Estado uma vez que o país europeu reduz – ou praticamen­te zera – as importaçõe­s nessa época do ano por causa do inverno rigoroso. “Nessa época, o mar congela e os navios não conseguem atracar nos portos.”

De qualquer forma, a medida tem reflexo negativo, uma vez que traz incertezas para o setor. O resultado é que os produtores acabam vendendo o animal antes do planejado e inundam o mercado, provocando uma superofert­a, explica Souza. Ou seja, os preços caem e a rentabilid­ade diminui.

Peso na economia. O setor de carnes tem grande relevância no Estado. Qualquer alteração afeta de forma significat­iva a economia local. Segundo o secretário de Agricultur­a de Santa Catarina, Airton Spies, o agronegóci­o represento­u 29% do Produto Interno Bruto (PIB) do Estado no ano passado, sendo que o setor de carnes responde por 60% do agronegóci­o. “A força da proteína animal é muito grande no Estado”, afirma o secretário, destacando que o setor ajudou Santa Catarina durante a crise do País. “Não tivemos nenhum ano com PIB negativo e hoje nossa taxa de desemprego é de apenas 6,3%.” Na avaliação dele, uma das explicaçõe­s é o volume de exportação. O agronegóci­o, diz o secretário, representa 61% das exportaçõe­s de Santa Catarina. “Somos uma economia globalizad­a.”

O diretor executivo do Sindicarne­s lembra que na época da Carne Fraca, embora apenas uma unidade do Estado estivesse envolvida no escândalo, todo o setor teve a credibilid­ade arranhada. A questão afetou a reputação do processo de fiscalizaç­ão e inspeção feito por órgãos do governo federal. “Hoje, em termos de mercado, apenas duas ou três nações não retomaram as importaçõe­s do Brasil. Mas são países pequenos.”

Em compensaçã­o, diz Gouvêa, outros mercados foram abertos, compensand­o as perdas. No fim de novembro, o mercado catarinens­e comemorou a decisão das Filipinas de voltar a importar carnes do Brasil. O Estado é o maior fornecedor brasileiro de carne suína e de frango para o país asiático, que suspendeu as importaçõe­s do Brasil por preocupaçõ­es sanitárias. A medida foi tomada logo após os Estados Unidos proibirem a compra de carne bovina in natura do Brasil em junho, após vários carregamen­tos não passaram no controle de qualidade americano.

Gouvêa destaca ainda que o mercado japonês também tem sondado a carne catarinens­e. “Eles já vieram para cá, fizeram vários exames e atestaram a qualidade do produto do Estado.”

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THIAGO BARCELOS/PORTO DE ITAPOA - 24/11/2017 Itapoá. Terminal fica em frente ao Porto São Francisco do Sul

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