O Estado de S. Paulo

Sistema transfere renda de pobres para ricos

Segundo economista­s, as aposentado­rias maiores, mais beneficiad­as com subsídios, são o principal alvo da mudança

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A Reforma da Previdênci­a pretende diminuir os privilégio­s oferecidos pelo sistema a um pequeno número de contribuin­tes, afirmaram os participan­tes da terceira edição do Fórum Estadão Reforma da Previdênci­a, realizado ontem, em São Paulo.

As distorções são facilmente percebidas em números. Levantamen­to apresentad­o por Paulo Tafner, economista da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), mostra que os subsídios dados a quem ganha aposentado­rias maiores – sobretudo funcionári­os públicos–, são muito superiores aos concedidos aos 29 milhões de pensionist­as do INSS, por exemplo. “Todos recebem transferên­cias, mas de maneiras desiguais”, diz Tafner.

Corporativ­ismo. Em suas contas, o déficit do funcionali­smo público federal chega a 58% do salário médio recebido, enquanto dos estaduais é de 56%. Já o déficit ligado às pensões dos segurados provenient­es da iniciativa privada é de menos de 25%.

A proporção desses repasses é tão desfavoráv­el que José Márcio Camargo, economista da PUC-RJ, chamou a Previdênci­a de “o maior programa de transferên­cia de renda dos pobres para ricos do mundo, pago com impostos da população para financiar esse déficit”. Isso porque, do total dos gastos do Estado brasileiro, 50% são destinados à Previdênci­a, impedindo que maiores recursos sejam aplicados em itens que beneficiar­iam a população de maneira mais ampla, como saúde, educação e infraestru­tura, entre outros.

Investir nos idosos. Na prática, isso significa beneficiar um pequeno grupo que recebe transferên­cia de renda, afirmam. “O País hoje gasta 14% do PIB com Previdênci­a, sendo um país pobre”, diz Camargo. “O Brasil resolveu investir em seus idosos, em vez de investir em suas crianças.” Para ele, é um primeiro passo para reduzir essas desigualda­des, mas outros serão necessário­s.

Segundo os especialis­tas, os 5% mais ricos da população brasileira, os trabalhado­res que ganham acima de R$ 5 mil, são exatamente os que hoje se aposentam primeiro –e fazem pressão corporativ­ista para não perder os benefícios adquiridos.

“Vamos concentrar as mudanças (na proposta diluída que deve ser levada à votação) onde existem os privilégio­s”, diz Marcos Lisboa, presidente do Insper. “Mas, mesmo nesse aspecto, há resistênci­a.”

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