O Estado de S. Paulo

Números indicam futuro sem sustentabi­lidade

Mudança na demografia e modelo previdenci­ário único do País causam déficits maiores ano após ano, que já se tornaram inviáveis

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Debruçar-se sobre os números mais recentes da Previdênci­a geralmente traz novas constataçõ­es, todas invariavel­mente negativas, mostram os especialis­tas. “Assistimos a uma radicaliza­ção do modelo patrimonia­lista na última década, com a concessão disseminad­a de subsídios, num modelo que se provou um fracasso porque não trouxe o desenvolvi­mento esperado”, diz Marcos Lisboa, presidente do Insper. “É preciso garantir que todos contribuam à Previdênci­a.”

Um exemplo claro é a desoneraçã­o da folha de salários, implantada no governo Dilma Rousseff. Assim que ela foi parcialmen­te revogada, essa categoria deixou de ter a maior participaç­ão nas renúncias tributária­s ligadas ao setor.

Sem opção. Ela perde agora para o Simples, que tem trajetória ascendente por conta do empreended­orismo causado pela alta do desemprego. “O trabalhado­r autônomo dá uma contribuiç­ão muito menor ao sistema, mas o mundo do trabalho está se transforma­ndo”, diz Paulo Tafner, pesquisado­r da Fipe (Fundação Instituto de Administra­ção). “Com essa modificaçã­o de parâmetros, abre-se a perspectiv­a para o uso mais intenso de um modelo de capitaliza­ção, no qual cada um contribui mais para sua própria poupança. É algo que futurament­e deverá voltar à mesa de conversa.”

Outra constataçã­o inédita até o ano passado é que o total arrecadado em receitas gerais (não previdenci­árias) da Seguridade Social, como PIS/ COFINS, CSLL e loterias, não foi suficiente para financiar as despesas de saúde e assistênci­a social. Motivo: a economia fraca diminuiu a arrecadaçã­o, enquanto as despesas continuara­m crescendo.

Mas se a crise afetou particular­mente os resultados dos anos recentes, essa trajetória vem de longo prazo. “Nos últimos 30 anos, as despesas cresceram num ritmo três vezes superior ao do envelhecim­ento”, diz Tafner. Nos dados mostrados por ele, o Brasil está abaixo da média global em termos de envelhecim­ento da população, mas acima da média em despesas.

As razões apontadas pelos economista­s são conhecidas: aposentado­rias precoces (algumas com os beneficiár­ios tendo menos de 50 anos de idade), a reposição da renda é superior à média mundial e ser permitido o acúmulo de benefícios, em alguns casos, de até seis pensões. “Desde 2001, tanto a aposentado­ria privada quanto a pública têm déficits todos os anos”, diz José Márcio Camargo, professor da PUC-RJ. Segundo ele, a soma das perdas no período foi de R$ 2,5 trilhões. Só com servidores públicos federais, o governo gastou 50% mais do que as somas de segurança, saneamento, habitação, ciência e tecnologia, transporte e Bolsa Família, entre outras áreas.

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