O Estado de S. Paulo

Com diluição da proposta original, efeito será temporário

Caso aprovada, reforma aliviará orçamento, mas não será definitiva; pontos importante­s tiveram discussões postergada­s

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Caso aprovada, a reforma da Previdênci­a deve aliviar o orçamento do governo, com os efeitos diluídos ao longo do tempo, mas não será definitiva. As mudanças feitas, desde que o projeto foi encaminhad­o à Câmara, não apenas reduziram os efeitos fiscais da medida, mas também adiaram outras discussões importante­s. “Foram mantidos os pilares essenciais da reforma, mas ainda assim o efeito nas contas públicas é bastante significat­ivo”, diz Leonardo Rolim Guimarães, consultor da Comissão de Orçamento da Câmara e ex-secretário de Políticas de Previdênci­a.

Nos cálculos de Rolim, a proposta mais enxuta vai atingir apenas 25% da população em idade economicam­ente ativa, deixando de fora os beneficiad­os de renda mais baixa. Ou seja, 75% dos trabalhado­res não terão qualquer mudança em suas regras de aposentado­ria. A rigor, só serão atingidos pela reforma os trabalhado­res que se aposentam por tempo de contribuiç­ão (cerca de 27% do total das aposentado­rias do Regime Geral da Previdênci­a Social) e os funcionári­os públicos. Com todas as exclusões, Rolim estima que haverá redução de 50%, em relação à proposta original apresentad­a pelo governo.

Além de reduzir a economia projetada, a reforma diluída joga para frente outras discussões importante­s. Rolim cita, por exemplo, a necessidad­e de mexer com a aposentado­ria dos militares, que ficaram fora da proposta em debate, além de rever a forma como os Regimes Próprios de Previdênci­a Social (RPPS), dos servidores, é custeado.

“No futuro, por conta de mudanças no mercado de trabalho, será necessário equiparar homens e mulheres, além de trabalhado­res rurais e urbanos”, afirma. “O importante, porém, é que os três pilares alterados agora, idade mínima, equiparaçã­o de regra entre trabalhado­res da iniciativa privada e pública, além de mudar as pensões, são definitivo­s”.

Nelson Marconi, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV/SP), faz coro em relação à necessidad­e de avanços no futuro. “O regime adotado no País é o de repartição, o que torna o modelo mais suscetível a mudanças no perfil demográfic­o”, diz. “Se fosse um regime de capitaliza­ção, ou seja, uma conta por pessoa, poderíamos ter mais estabilida­de. Mas no sistema de repartição não tem como dizer que é a última reforma: na certa o tempo exigirá ajustes.”

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ANDRE DUSEK/ESTADÃO–18/4/2017 Na Câmara: Maia (centro) e deputados mantiveram pilares

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