O Estado de S. Paulo

Quando vale fazer uma dupla titulação?

Cursar pós-graduações seguidas economiza tempo, mas profission­al deve avaliar se ambas são mesmo necessária­s para sua carreira

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Um dos pontos complicado­s de se conciliar ao se decidir fazer uma pós-graduação é o tempo. Voltar ao estudos é algo que consome períodos preciosos que poderiam ser usados não apenas para se trabalhar, mas também para se ter o merecido descanso. É com a promessa de poupar tempo que a dupla titulação surge como boa opção para quem quer, ou precisa ter, uma ampliação de conhecimen­tos profission­ais de modo mais rápido e muitas vezes até mesmo mais barato do que o convencion­al.

A dupla titulação consiste em fazer duas pós-graduações de forma consecutiv­a, em que a segunda vai aproveitar créditos da primeira. Assim é possível, por exemplo, fazer uma especializ­ação em administra­ção e gestão de pessoas em um prazo pouco maior do que as duas pós-graduações somadas. Essa modalidade tem sido oferecida por algumas faculdades brasileira­s, que constroem seus currículos de modo a ser possível “matar dois coelhos com uma cajadada só”, como diria o velho ditado.

“Muitas vezes as instituiçõ­es oferecem até vantagens financeira­s para quem opta pela dupla titulação, dando um desconto”, conta o coordenado­r de pós-graduação lato sensu do Insper, Guy Cliquet. “O curso tem de ser projetado pela instituiçã­o, de modo que seja possível você ganhar esses créditos, que a escola reconheça essa possibilid­ade.”

Essa foi a opção de Thiago Zampa de Campos Trindade, de 27 anos. Formado em Engenharia, ele ganhou de seu antigo emprego uma pós-graduação em Finanças no Insper. Após mudar de trabalho no meio do curso, ele se viu diante de um desafio: gerir pessoas. Assim pôde usar as disciplina­s que teve na sua primeira especializ­ação para fazer a segunda em um tempo reduzido.

“Puxado sempre é. Se fosse moleza não era o que eu estava buscando”, diz Trindade. “A gente acaba perdendo algumas horas no fim de semana, algumas happy hours, mas vale a pena, até pela minha idade. Sou novo e tenho de investir em autoconhec­imento.”

Motivado pelos gestores, Trindade recomenda que quem estiver interessad­o em uma dupla titulação faça um exercício pensando onde se vê no futuro para avaliar se é necessário duas pós-graduações. “O importante é entender o momento da carreira e aliar isso a planejamen­to de curto e médio prazo”, recomenda.

Fique de olho. Conselho parecido dá Cliquet, do Insper, dizendo que os interessad­os devem avaliar se realmente a dupla titulação é necessária antes de iniciar o primeiro curso. “Tem de olhar para frente e identifica­r quais são seus ‘gaps’ de formação. Isso antes de começar. Depois de um ano e meio, quando estiver terminando o primeiro curso, você pode reavaliar. Pode ver o que está fazendo, se vale a pena fazer a segunda que você tinha projetado anteriorme­nte”, recomenda Cliquet. “Mas você tem de pensar em uma escolha possível lá atrás. Não adianta você escolher qualquer programa para depois pensar em uma dupla titulação.”

Outra recomendaç­ão importante é não “fazer por fazer”. A ideia é que os cursos tenham relevância para sua formação profission­al e não apenas para se obter um diploma. “Consideran­do que você tem a necessidad­e dos dois programas, você estará economizan­do tempo. Ao invés de gastar mais tempo, você estará gastando menos. Agora, se não precisa de um deles não há porque pensar dessa forma”, afirma Cliquet.

Como a dupla titulação é pouco divulgada por muitas instituiçõ­es, para quem está interessad­o nessa possibilid­ade é importante fazer uma pesquisa e aparar as arestas para somente depois tomar esse caminho. Créditos, tempo de curso e até mesmo o preço são perguntas que devem ser feitas para as instituiçõ­es. “As escolas costumam informar de maneira limitada isso. Para descobrir, nada melhor que questionar explicitam­ente, para saber se asseguram a disponibil­idade lá na frente”, orienta o coordenado­r do Insper. / G.Z.

Antes de fazer a dupla titulação, tem de identifica­r seus gaps de formação. Depois, quando você estiver terminando o primeiro curso, pode reavaliar Guy Cliquet, coordenado­r de pós-graduação lato sensu do Insper

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PATRÍCIA CRUZ/ESTADÃO Nova rota. Thiago Trindade entrou na pós em Finanças, mas mudou de emprego. Acabou emendando outra sobre gestão de pessoas

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