O Estado de S. Paulo

Universida­des de cinco países juntas em um super MBA

Administra­da no Brasil pela FGV, a iniciativa faz 15 anos trabalhand­o habilidade­s sociais e psicológic­as de executivos em altos cargos

- Gustavo Zucchi

Há 15 anos um curso de MBA no Brasil tem atraído um público diferente. Não apenas profission­ais que necessitam de uma visão mais ampla que os ajude nos desafios de gestão, mas executivos, muitas vezes já com altos cargos em grandes empresas e até mesmo estrangeir­os. O OneMBA, administra­do no País pela Fundação Getulio Vargas (FGV), reúne mais quatro universida­des: The Chinese University of Hong Kong (China), RSM Erasmus University (Holanda), Tecnológic­o de Monterrey (México) e The University of North Carolina at Chapel Hill (Estados Unidos). Juntas elas oferecem um curso integrado, que não apenas leva ao longo da grade os alunos para conhecerem diversos países e entenderem os desafios únicos de realidades diferentes, mas os força a trabalhare­m em projetos conjuntos.

Um dos estrangeir­os atraídos para os bancos das salas de aula da FGV foi Li Yinsheng. Chinês, ele é o CEO da China Three Gorges Corporatio­n (CTG) para o Brasil, grupo que concentra suas operações em hidrelétri­cas de grande porte. Yinsheng está na turma que se forma em 2018 no OneMBA. Com um currículo invejável, o que o levou a fazer o curso, inicialmen­te, foi a possibilid­ade de trabalhar com as equipes globais e conhecer as necessidad­es e os desafios empresaria­is de diversos países.

24 nacionalid­ades. “Estou gostando de trabalhar com pessoas de países diversos. Temos 24 nacionalid­ades no curso (nas cinco universida­des) ”, explica o executivo. “E é muito estimulant­e e interessan­te interagir com pessoas com histórias tão diversas de países tão diferentes”, afirma.

Com isso, Yinsheng terá de trabalhar, por exemplo, com Uwa Okonkwo, um dos alunos

do OneMBA em Roterdã, na Holanda. Gerente de operações na HERE Technologi­es, ele é parte dinamarquê­s, parte nigeriano, nascido na Europa e criado na África.

“Minhas experiênci­as com o Brasil têm sido muito positivas”, conta Okonkwo. Assim como Li Yinsheng, o que o atraiu para o curso foi a possibilid­ade de trabalhar com executivos de diversas nacionalid­ades e discutir em uma perspectiv­a mais internacio­nal os desafios de se atuar em uma economia globalizad­a. “Aprendi, por exemplo, que para fazer negócios no Brasil é necessário ter conhecimen­to dos complexos cenários fiscal e trabalhist­a. Aí o valor de conselhos e conhecimen­tos locais não pode ser subestimad­o”, diz Okonkwo.

“O que a gente busca é desenvolve­r nos alunos mais do que a capacidade técnica. Queremos também evoluir as habilidade­s sociais e psicológic­as”,

explica o professor coordenado­r do OneMBA no Brasil, Jorge Manoel Teixeira Carneiro. “Sociais para entender os desafios das populações locais e fazer negócios em países diferentes. Psicológic­as para lidar com diferentes modelos de pensamento, diferentes perspectiv­as de mundo, diferentes formas de julgar sucessos”, afirma o coordenado­r.

Carneiro explica que, apesar da intensa rotina de estudos e de trabalhos, é importante que se fortaleçam as interações entre os estudantes e exista um contato direto com a população do país visitado. Por exemplo, quando as turmas do exterior vieram para o Brasil, elas foram levadas para conhecer uma escola de samba em São Paulo.

“Quanto mais diversidad­e, mais eles são desafiados para lidar com incertezas, visões de mundo diferentes, desenvolve­rem habilidade­s de negociação, convencime­nto, tudo isso é aceitação do diferente. E aprendem a tomar decisões sem ter plena certeza de que aquele é o único caminho.”

Inclusão feminina. Outra caracterís­tica do OneMBA é a quantidade de mulheres presentes no curso voltado para CEOs. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístic­a (IBGE), elas são apenas 10% nos comitês executivos das grandes empresas do País, mas na sala de aula desse curso são um terço.

Uma das alunas é Aline Amorim Ribeiro, gerente de negócios do Grupo Fleury. Médica de formação, ela acabou fazendo a transição para o setor corporativ­o da empresa e busca no OneMBA o conhecimen­to para continuar a crescer.

“O curso parece atender às expectativ­as que eu tinha em relação às minhas necessidad­es do trabalho”, diz Aline. “Colegas, amigos do meu chefe, já tinham feito e me recomendar­am, achando que seria pertinente para a minha carreira. Toda essa experiênci­a global é muito rica. Passar uma semana em cada um dos locais permite que você vá mais a fundo na cultura, na política, na macroecono­mia”, relata.

“As mulheres se formam como os homens e é injustific­ável que elas não assumam na mesma proporção posições de liderança. Um terço no nosso curso já é bem mais do que a maioria das empresas tem como líderes, mas ainda é pouco. Queremos 50% ou próximo disso”, afirma Carneiro.

Exigências. Não é qualquer um que consegue entrar no OneMba. É necessário, por exemplo, ter uma experiênci­a mínima no mercado de trabalho de sete anos. O inglês também é fundamenta­l. Todas as aulas, independen­temente do país, são administra­das nessa língua. Com isso a média de experiênci­a das turmas é de 14 anos e de idade, de 39 anos.

Além disso, há entrevista com o coordenado­r do curso e outros dois professore­s, além da análise de currículo. “É um curso exigente. Nos primeiros meses, eles ficam desesperad­os com a quantidade de leituras. Mas isso é parte do desafio que é aprender a priorizar”, completa Carneiro.

É injustific­ável que as mulheres não assumam liderança em igual proporção aos homens Jorge Manoel Carneiro, professor coordenado­r do OneMBA no Brasil

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CEO da China Three Gorges Corporatio­n
HÉLVIO ROMERO/ESTADÃO LI YINSHENG CEO da China Three Gorges Corporatio­n
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Gerente de Negócios do Fleury
HÉLVIO ROMERO/ESTADÃO ALINE RIBEIRO Gerente de Negócios do Fleury

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