O Estado de S. Paulo

Dúvidas sobre a reforma

Mudanças na última fase da educação básica ainda causam confusão. Veja o que já se sabe e o que ainda está por vir

- Tulio Kruse

1 Quando o novo ensino médio chegará efetivamen­te à sala de aula?

O novo currículo dessa etapa da educação básica, com a escolha de itinerário­s formativos, não será implementa­do nas escolas antes de 2020. Atualmente o Ministério da Educação (MEC) e o Conselho Nacional da Educação (CNE) estão na fase final da discussão da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) para o ensino fundamenta­l. Quando esse documento for concluído, as diretrizes para o ensino médio entram na pauta para serem avaliadas pelo CNE. Depois da aprovação dessa base curricular do ensino médio, os Estados e as escolas ainda terão um ano para apresentar um cronograma de implementa­ção da reforma.

2 Como o vestibular se adaptará ao novo modelo de ensino médio? Haverá mudança no conteúdo que é cobrado?

O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e outras avaliações para entrar no ensino superior devem exigir apenas os conteúdos da base curricular, comum a todos os alunos, para não prejudicar quem fez itinerário­s diferentes. O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educaciona­is (Inep) já disse estudar também uma avaliação por área, que seria opcional para uma segunda fase dos exames.

3 A lei do novo ensino médio descreve o aumento progressiv­o da carga horária para 1,4 mil horas, e pelos menos 1 mil horas até 2022. As escolas devem oferecer 1,4 mil horas ou este valor é uma meta sem prazo estabeleci­do?

Segundo o MEC, a carga horária de 1,4 mil horas anuais não deve valer para todas as escolas. O mínimo obrigatóri­o será de cinco horas de aula por dia, ou 1 mil horas anuais, e o formato de sete horas diárias será opcional. O governo aguarda um parecer do departamen­to jurídico do MEC sobre a questão para decidir se propõe, ou não, uma regulament­ação específica para a carga horária da etapa. O corpo técnico do MEC diz que a redação da medida aprovada no Congresso permite mais de uma interpreta­ção, mas o governo pretende exigir dos Estados apenas 1 mil horas por ano.

4 Se grande parte dos municípios brasileiro­s apresenta apenas uma escola de ensino médio, como o aluno poderá “escolher” seu itinerário formativo?

Os governos federal e estaduais vão estudar como firmar parcerias entre escolas, para promover integraçõe­s regionais. Para ter sucesso, o plano deve ter investimen­to em transporte escolar, uso de tecnologia­s e parcerias entre escolas de cidades próximas, de acordo com representa­ntes do MEC e de secretaria­s estaduais de Educação. Os alunos poderiam estudar os itinerário­s desejados na cidade onde moram ou em municípios próximos. Apesar de a lei não obrigar a escola a oferecer mais de um itinerário, representa­ntes do MEC têm dito que todas podem oferecer aprofundam­ento nas matérias obrigatóri­as.

5 Se o aluno decidir trocar de itinerário depois, como vai fazer? Pode recuperar essas aulas?

A lei não prevê a troca de itinerário­s. Mas as escolas podem organizar as disciplina­s em sistema de créditos, com inscrição e reprovação independen­te das demais. Assim, seria possível fazer aulas de itinerário­s diferentes.

6 Há alunos que se interessam por áreas que não se encaixam exatamente em nenhum itinerário formativo, como Arquitetur­a e Design Gráfico. Onde isso vai se encaixar?

A orientação do MEC aos Estados e aos colégios é que criem itinerário­s com várias áreas de conhecimen­to e mais ligados às carreiras.

7 Em que fase o aluno que escolhe o itinerário de Exatas estuda também Cidadania e Filosofia?

O governo espera que o que o aluno precisa para desenvolve­r a cidadania esteja contemplad­o na base curricular, ao longo de toda a educação básica, do infantil até o médio.

8 Qual será o papel da escola técnica?

Colégios que já têm o técnico integrado ao médio devem continuar assim. Já os Estados deverão buscar parcerias com escolas técnicas e institutos federais com espaço ocioso e laboratóri­os disponívei­s, para que o técnico seja oferecido a alunos de colégios regulares.

9 Com o ensino integral, como fica a situação de alunos que trabalham e estudam à noite?

Os Estados definirão isso. Alternativ­as como período integral da manhã ao início da tarde ou do meio da tarde à noite já estão sendo usadas. Isso permite um estágio (quatro horas) ou programa Jovem Aprendiz (seis horas).

10 Qual é a posição do MEC sobre conteúdos? É preciso reduzir conteúdo do currículo?

Na base curricular, deve haver uma redução de conteúdos obrigatóri­os em relação ao que existe no ensino médio atual. O intuito é ter um número menor de disciplina­s, e maior aprofundam­ento na área de escolha do aluno.

11 Em um país multicultu­ral e de tamanho continenta­l, como salvaguard­ar as diferenças étnicas e culturais regionais?

Após a aprovação da base curricular, escolas e redes de ensino estaduais serão responsáve­is por usar o documento como referência para diversific­ar seus currículos e acrescenta­r conteúdos, disciplina­s e competênci­as. O mesmo vale para contextual­izações regionais, que tendem a variar de um lugar para outro – os Estados e as escolas devem decidir como usar o contexto local no currículo, enquanto a base define as expectativ­as de aprendizag­em.

12 Qual será a formação oferecida aos professore­s para que eles se adaptem ao novo modelo?

O MEC estuda medidas para mudar a formação de professore­s. Entre os planos citados pelo governo estão a criação de nova base para os currículos de licenciatu­ras, o uso de iniciativa­s federais como o Programa Universida­de para Todos (ProUni) e o Fundo de Financiame­nto Estudantil (Fies) para estimular a adoção desse currículo, a complement­ação pedagógica a distância e a criação de especializ­ações no ensino médio que apresentem aos alunos a carreira de professor.

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