O Estado de S. Paulo

Mudança em governança

Odebrecht não poderá mais ter CEO da família

- Fernando Scheller

A uma semana da saída de Marcelo Odebrecht da prisão, a Odebrecht S/A, holding que reúne os negócios da família, anunciou ontem mudança em sua política de governança com o objetivo de separar acionistas e gestão. A empresa afirmou que, a partir de agora, o diretor-presidente da Odebrecht S/A não poderá ser mais membro da família. O executivo, porém, será escolhido pelo presidente do conselho, cargo hoje exercido por Emílio Odebrecht.

No comunicado divulgado ontem, a empresa anunciou ainda a intenção de atrair sócios e abrir o capital da Odebrecht S/A. Definiu também limites de idade para executivos (65 anos) e conselheir­os (75 anos). A companhia já havia anunciado outros compromiss­os de governança, como a representa­ção mais plural em seu conselho de administra­ção, e medidas organizaci­onais, como a mudança de nome de alguns de seus negócios (leia mais abaixo).

A presença de Emílio Odebrecht na presidênci­a do conselho é reflexo de acordo que permitiu ao executivo comandar a reorganiza­ção da holding até 2018, com a meta de fazer mudanças para impedir que os negócios “sangrem” ainda mais. Desde o início da Lava Jato, em 2014, o grupo viu seu total de funcionári­os encolher em mais de 60% – há três anos, a companhia tinha 200 mil colaborado­res; hoje, são 75 mil.

Embora hoje o comando da Odebrecht S/A seja exercido por Luciano Guidolin – que não é da família, mas tem mais de 20 anos no grupo –, a decisão anunciada ontem afasta a possibilid­ade de que um Odebrecht possa retomar a função. Com a saída da prisão marcada para o próximo dia 19, Marcelo Odebrecht está impedido de voltar ao cargo. O acordo com a Justiça prevê que ele fique fora do grupo pelo menos até 2019.

Segundo uma fonte de mercado, o processo de transforma­ção organizaci­onal da Odebrecht não estaria concluído. Embora o comunicado divulgado ontem diga que “a família será representa­da na Odebrecht S/A pelo presidente do CA (conselho de administra­ção)”, o Estado apurou que não está descartada a possibilid­ade de a família se abster também desta função no futuro.

Reações. Para analistas, manter a escolha do principal executivo nas mãos da família pode dar a impressão de que a mudança é inócua. Segundo Herbert Steinberg, sócio da consultori­a Mesa Corporate, a decisão da Odebrecht nada muda na prática. “O executivo escolhido, naturalmen­te, precisará estar alinhado aos interesses da família”, disse o consultor. Na visão de Steinberg, a obrigação de responder diretament­e à família vai dificultar a atração de executivos com experiênci­a internacio­nal, reduzindo a chance de recuperaçã­o econômica do grupo.

Outro especialis­ta em governança corporativ­a, que pediu para não se identifica­r, afirmou que, sem a saída efetiva da família do negócio, o “ressentime­nto” da sociedade com a empresa dificilmen­te passará. Para a fonte, será necessária uma legislação, no futuro, mais parecida com a dos Estados Unidos, que prioriza a manutenção dos empregos e agiliza a troca do controle em grupos que perderam sua reputação. Segundo ele, a impressão hoje é de que, após todo o escândalo de corrupção, nada mudará para os donos de grandes conglomera­dos.

“Na prática, nada muda. O executivo escolhido (para a presidênci­a do grupo) naturalmen­te precisará estar alinhado aos interesses da família.”

Herbert Steinberg

SÓCIO DA MESA CORPORATE

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STF Meta. Mudança reflete intenção de separar família do corpo executivo do grupo, diz Emílio

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