Se a bolha do bitcoin estourar, muitos podem perder dinheiro, mas não ameaça bancos.
Nesta quarta-feira, o presidente do Banco Central (BC), Ilan Goldfajn, voltou a advertir que a disparada das cotações do bitcoin (veja gráfico) “sem lastro e sem regulação” embute riscos de “estouro de bolha” e de “formação de pirâmide financeira”.
Nos Estados Unidos, já se sabe de gente que tenha hipotecado suas casas para levantar empréstimos com o objetivo de aplicar em bitcoins, a criptomoeda que já valorizou 1.530% em 2017.
Outros dois fatos novos merecem alguma análise. O primeiro foi a criação de um mercado futuro na Chicago Board Options Exchange (CBOE) para o bitcoin, instrumento que pode servir de hedge (defesa), dependendo de que lado esteja o aplicador. Estreou cotada a US$ 15,4 mil dólares por bitcoin, mas, logo no primeiro dia, atingiu US$ 18,7 mil.
E o outro, o anúncio pelo presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, de que está criando o petro, criptomoeda lastreada em petróleo, ouro e diamantes das reservas nacionais, destinada a “garantir soberania monetária” e, assim, contornar o boicote ao comércio e aos títulos da Venezuela imposto pelo governo dos Estados Unidos.
A institucionalização do mercado futuro pela CBOE e, a partir do dia 18, também pela Chicago Mercantile Exchange (CME) deve aumentar ainda mais a demanda pelo bitcoin e, de quebra, por outras criptomoedas (já são 1,3 mil). Isso vai na contramão do que gostaria a atual direção do BC do Brasil, que é a regularização dessas moedas.
Com o petro, Maduro pretende levar os venezuelanos a trocar o atual peso venezuelano, desmoralizado por uma inflação superior a 1.000% ao ano, por uma moeda forte, aumento de demanda que, por si só, deverá produzir supervalorização da nova moeda. É manobra que é mais enganação. A principal empresa da Venezuela, a petroleira PDVSA, deixou de pagar juros de US$ 183 milhões e, nessas condições, está em default internacional.
É a primeira vez que um governo tenta operar com moeda cujas transações são rastreadas por computador, mas falta-lhe o essencial: credibilidade. Ninguém sabe como será emitida e em que condições poderá ser trocada por seu próprio lastro, ou seja, por petróleo, ouro e diamantes. Aparentemente o projeto ainda está sendo incubado. Levará um tempo para que a nova moeda venha à luz.
Mas dá para avançar dúvidas bem armadas. Um país que destruiu sua própria soberania monetária não pode pretender reconstruí-la apenas com uma nova moeda, sem dar-lhe bases que garantam a credibilidade que a moeda original deixou de ter. Também não está nem um pouco claro como uma economia pode operar com um sistema monetário duplo.
Voltando ao bitcoin e demais criptomoedas, Goldfajn entende que os bancos centrais deveriam regulamentálas para que deixem de produzir riscos para os aplicadores. No entanto, não se vê nenhuma iniciativa nessa direção.
O risco de estouro de bolha e de desabamento de pirâmide parece crescente. Se acontecer, muita gente pode perder dinheiro, mas não a ponto de ameaçar nem a segurança dos sistemas monetários internacionais nem o patrimônio dos grandes bancos.