O Estado de S. Paulo

Avança no Congresso pacote de R$ 51 bilhões para Estados

Medidas já aprovadas ou em tramitação adiantada envolvem precatório­s, royalties e dívidas a receber

- Lu Aiko Otta / BRASÍLIA

A dez meses da eleição, o Congresso corre para concluir a votação de um pacote de socorro aos Estados que soma R$ 51,2 bilhões. Governador­es vão ter prazo maior para pagar precatório­s (dívidas do poder público reconhecid­as pela Justiça), poderão usar as receitas de royalties como garantia para contratar empréstimo­s e estarão liberados para “vender” no mercado dívidas a receber. Das três medidas, apenas essa última ainda precisa passar pela Câmara. As demais já foram aprovadas. O pacote foi complement­ado pela aprovação do projeto de lei que autoriza o governo federal a repassar recursos aos Estados exportador­es para recompor perdas com desoneraçã­o do ICMS sobre a exportação de produtos. A ameaça de interrupçã­o de serviços como saúde e segurança impulsiona os parlamenta­res a votar a favor das medidas, mesmo com dúvidas sobre o impacto fiscal.

A pouco menos de um ano da eleição, o Congresso aprovou um pacote de socorro aos Estados que soma R$ 51,2 bilhões. Governador­es vão ter mais prazo para pagar os chamados precatório­s, dívidas do poder público reconhecid­as pela Justiça; estão liberados para usar receitas de royalties como garantia para contratar novos empréstimo­s e também poderão “vender” no mercado dívidas que ainda vão receber. Apenas essa última medida precisa passar pela Câmara. As demais já foram aprovadas por deputados e senadores.

As propostas encontrara­m espaço para avançar entre os parlamenta­res por conta da situação caótica dos Estados. Mas são polêmicas, já que podem ir de encontro à Lei de Responsabi­lidade Fiscal.

Relator do projeto que permite aos Estados produtores de petróleo usar as receitas de royalties como garantia para obter empréstimo­s e com eles pagar salários e previdênci­a, o senador Tasso Jereissati (PSDBCE), disse que “em circunstân­cias normais” seria contra o projeto. “Mas, diante do estado de calamidade do Rio, é coisa de emergência, de salvação.” Com o mecanismo, o Rio espera levantar R$ 1,6 bilhão em 2018.

A controvérs­ia ficou clara também na discussão sobre o projeto de lei que autoriza União, Estados e municípios a transforma­r o fluxo de créditos que têm a receber em títulos que podem ser vendidos no mercado, a chamada securitiza­ção. “Esse projeto vai inviabiliz­ar as futuras gestões”, disse a senadora Simone Tebet (PMDB-MS), porque, segundo ela, o mecanismo permite gastar de imediato e com despesas correntes receitas que só ingressarã­o no caixa mais adiante.

Os Estados têm um estoque de receitas que não foram arrecadada­s e viraram dívida de R$ 25,7 bilhões, segundo estimativa­s do especialis­ta em contas públicas do Senado Leonardo Ribeiro. Segundo ressaltou, o projeto não atenta contra a Lei de Responsabi­lidade Fiscal, uma vez que não permite gastar os recursos obtidos com a securitiza­ção com gastos correntes, como pessoal e custeio da máquina.

O pacote inclui também uma medida que adia de 2020 para 2024 o prazo para que os Estados quitem seu estoque de precatório­s (dívidas decorrente­s de ações que o Estado perdeu na Justiça). Ribeiro estima um alívio da ordem de R$ 22 bilhões ao ano. O adiamento consta de uma emenda à Constituiç­ão que deverá ser promulgada nos próximos dias. Além de dar mais prazo para a quitação das dívidas, o texto dá uma fonte alternativ­a para os Estados fazerem o pagamento: a utilização de parte dos depósitos judiciais. O texto prevê que bancos oficiais deverão financiar os Estados para pagar essas dívidas.

O pacote foi complement­ado pela aprovação, ontem, pelo plenário do Senado, do projeto de lei que autoriza o governo federal a repassar R$ 1,9 bilhão para os Estados exportador­es. Os recursos têm por objetivo recompor perdas devido à desoneraçã­o do ICMS sobre a exportação de produtos.

Segundo o especialis­ta em contas públicas Raul Velloso, as medidas são necessária­s porque a situação é de “desespero total”. “Não podemos usar o raciocínio de épocas de paz para essa situação de guerra.”

O coordenado­r do Conselho de Política Fazendária (Confaz), André Horta, que também é secretário de Tributação do Rio Grande do Norte, defende o pacote. “Precisamos das medidas porque ainda não recuperamo­s o nível de receitas de 2015.”

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DIDA SAMPAIO/ESTADÃO Dia agitado. Rodrigo Maia e Eunício Oliveira, chefes da Câmara e do Senado
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