Condenação fará partido tomar decisão sem precedente
Oque fazer? A clássica pergunta dos revolucionários russos nunca foi tão apropriada no PT. Se a condenação de Lula for antecipada, o partido terá de tomar a decisão de maior envergadura de sua história.
Muitos petistas têm declarado internamente que “uma coisa é o golpe, outra é aceitá-lo”. Assim, Lula seria candidato mantendo uma estrutura de campanha “ilegal”. Por outro lado, o PT tem milhares de candidatos proporcionais que dependem de um nome próprio nas eleições majoritárias. Portanto, teria de encontrar um substituto que seria escolhido pelo próprio Lula.
Nessa hipótese, Lula poderia atuar desde a prisão (domiciliar ou não). Não tendo mais nada a perder, seus recados conformariam um discurso radical e a polarização que hoje domina a sociedade brasileira seria levada ao paroxismo.
É verdade que Lula não foi talhado para a luta de classes e, sim, para a conciliação. Não se espera dele um gesto desesperado. Mas agora o seu partido vive uma experiência inédita. De repente vê seus sindicatos sem recursos e sua base social sem amparo legal. Quem conhece minimamente a esquerda brasileira percebe que se trata de uma ruptura histórica.
Em poucos meses a fúria legiferante do Congresso promoveu uma “contrarrevolução de 1930”, sepultando o legado varguista. Os custos trabalhistas podem cair, mas o conflito social descontrolado vai aumentar. Afinal, não existe almoço grátis...
Lula lidera as pesquisas de intenção de voto e o PT voltou a ser o único partido brasileiro com apreciável preferência do eleitorado. Apesar da verborragia radical, não boicotou as eleições de 2016 nem pensa em não participar das próximas. Mas e se perdesse permanentemente qualquer expectativa eleitoral?
Lula tem uma ampla base de pessoas muito pobres. Excluir seu nome da cédula pode jogar o PT para fora do sistema de grandes partidos. Mas alguma coisa vai se quebrar no íntimo dos seus eleitores.