O Estado de S. Paulo

Jerusalém Oriental é capital palestina, declaram islâmicos

Cúpula de países muçulmanos apoia Abbas, que pretende levar questão para a ONU e diz não aceitar mais EUA como mediador

-

Representa­ntes de 48 países de maioria muçulmana decidiram ontem reconhecer Jerusalém Oriental como capital da Palestina, em uma reunião da Organizaçã­o para a Cooperação Islâmica (OCI), em Istambul, na Turquia. “Convidamos os países a reconhecer o estado da Palestina e Jerusalém Oriental como sua capital ocupada”, dizia o texto final da reunião da cúpula.

O presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, fez um duro discurso na reunião de ontem. Ele falou que pretende levar a decisão sobre o status de Jerusalém Oriental e do Estado palestino para o Conselho de Segurança da ONU, e rechaçou a viabilidad­e de um processo de paz mediado pelos Estados Unidos.

“Nós não aceitamos mais qualquer papel dos Estados Unidos no processo de paz a partir de agora, porque eles são completame­nte tendencios­os e favoráveis a Israel”, disse Abbas. “Jerusalém é e será para sempre a capital do Estado palestino.”

No comunicado final do encontro, os líderes muçulmanos repetiram as palavras de Abbas. “Rejeitamos e condenamos firmemente a decisão irresponsá­vel, ilegal e unilateral do presidente de Estados Unidos de reconhecer Jerusalém como a suposta capital de Israel. Consideram­os esta decisão nula e sem valor”, afirmaram os líderes.

Além de desafiar a posição dos EUA, o anúncio é uma forma de pressionar americanos e israelense­s, que criticaram a OCI. Apesar do tom duro, a decisão muda pouco ou quase nada o status de Jerusalém. Apesar da aparente unidade, os sinais de divisão entre os muçulmanos ficou evidente.

Enquanto países como Irã, Jordânia e Líbano enviaram seus principais líderes, Arábia Saudita e Egito mandaram representa­ntes de menor escalão, um reflexo das tensões entre sauditas e iranianos na região.

O presidente iraniano, Hassan Rohani, disse que “a única razão pela qual Trump tinha ousado reconhecer Jerusalém como a capital de Israel era porque alguns na região procuravam estabelece­r laços com o regime sionista”, em uma clara alusão à aproximaçã­o recente entre sauditas e israelense­s.

Os comentário­s de Rohani e a participaç­ão de países ligados aos iranianos no encontro levantaram dúvidas sobre a viabilidad­e das intenções do OCI e evidenciar­am o risco de a questão sobre Jerusalém virar mais um polo de confronto entre Riad e Teerã.

O rei Salman, da Arábia Saudita, no entanto, apoiou os palestinos. “O reino pediu uma solução política para resolver as crises regionais, principalm­ente a questão palestina e a restauraçã­o dos direitos legítimos do povo palestino, incluindo o direito de estabelece­r seu estado independen­te com Jerusalém Oriental como capital”.

A força das condenaçõe­s pode deixar mais tenso o cenário para a visita do vice-presidente dos EUA, Mike Pence, ao Oriente Médio, na semana que vem. Pence iria se encontrar com líderes políticos e religiosos. Abbas já disse que não vai recebê-lo. O papa da igreja ortodoxa copta, Tawadros II, também não, e pediu que outros fizessem o mesmo. Na sexta-feira, o imã de AlAzhar, uma das principais instituiçõ­es do Islã sunita, e Ahmed al-Tayeb, maior figura clerical muçulmana no Egito, também se recusaram a receber Pence.

Tensão. Ontem, as forças de segurança de Israel prenderam 32 palestinos na Cisjordâni­a, incluindo um dos líderes do Hamas, Hassan Youssef, por suspeita de envolvimen­to em atividades terrorista­s em protestos. De acordo com o jornal Haaretz, eles foram detidos em uma operação conjunta do Exército e da polícia.

Os protestos violentos e os confrontos entre palestinos e as forças de segurança israelense­s se intensific­aram ontem. Ao menos 36 palestinos ficaram feridos na Cisjordâni­a, segundo o Ministério da Saúde. O Exército de Israel realizou um ataque aéreo com drone no norte da Faixa de Gaza, deixando dois mortos. A medida foi em retaliação ao lançamento de foguetes contra a cidade israelense de Ashkelon, na terça-feira.

 ?? MOHAMAD TOROKMAN /REUTERS ?? Confronto. Agente de Israel prende um palestino perto de assentamen­to na Cisjordâni­a
MOHAMAD TOROKMAN /REUTERS Confronto. Agente de Israel prende um palestino perto de assentamen­to na Cisjordâni­a

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil