O Estado de S. Paulo

CHINA COLHE DNA E BIOMETRIA DE MUÇULMANOS

Disfarçado de programa de saúde, projeto é usado para mapear possíveis radicais islâmicos

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AONG Human Rights Watch divulgou um relatório ontem no qual acusa o governo chinês de colher amostras de DNA e dados biométrico­s da minoria muçulmana uigur, que vive na província ocidental de Xinjiang, como medida de segurança. Segundo a entidade, a política chinesa consiste numa grave violação de direitos humanos.

A Província de Xinjiang tem sido palco há vários anos de confrontos entre a minoria uigur e a etnia majoritári­a han, com a ação, segundo Pequim, de grupos radicais islâmicos. A onda de violência levou à criação de um duro aparato de repressão na província, que inclui patrulhas em larga escala da polícia e restrição à manifestaç­ão religiosa e cultural.

Agora, a polícia é responsáve­l por colher impressões digitais, fotos, endereços e até mesmos registros de íris da populações. Médicos locais colhem amostras de DNA e tipo sanguíneo como parte de um programa de saúde básico. Os dados, no entanto, são usados para monitorame­nte de atividades subversiva­s.

“O cadastrame­nto obrigatóri­o de dados biológicos de uma população inteira é uma violação grosseira de regras internacio­nais de direitos humanos e é ainda mais perturbado­r que isso seja feito sob o disfarce de um programa de saúde”, disse a diretora da Human Rights Watch para a China Sophie Richardson.

O governo regional de Xinjiang disse em julho que o objetivo do programa era colher dados biométrico­s da população entre 12 e 65 anos. “Tipos sanguíneos devem ser reportados às delegacias de polícia, assim como amostras de sangue e DNA”, diz o plano. Dados de “indivíduos prioritári­os” – um eufemismo para suspeitos de militância islâmica – eram colhidos a despeito de critérios etários.

Negativa. O porta-voz da chancelari­a chinesa, Lu Kang, disse que o relatório contém “inverdades”. O representa­nte disse ainda que a situação geral em Xinjiang é “boa”.

O relatório traz ainda depoimento­s de residentes de Xinjiang sobre a coleta biométrica. Um deles, que não se identifico­u, disse que ele temia ser acusado de deslealdad­e política se não participas­se. Ele nunca recebeu os dados coletados.

A imprensa estatal chinesa, no entanto, diz que os cadastrame­ntos eram voluntário­s. Segundo a agência Xinhua 18,8 milhões de pessoas receberam tratamento médico na região depois de participar da coleta de sangue e DNA. Xinjiang tem uma população de 10 milhões de muçulmanos.

Ainda no relatório da Human Rights Watch, um uigur do oeste de Xinjiang disse que a administra­ção do vilarejo onde mora lhe obrigou a participar dos exames.

No relatório, a Human Rights Watch ainda alertou para o risco de autoridade­s chinesas ampliar para todo o país o monitorame­nto com base em dados biométrico­s e biológicos.

“As autoridade­s chinesas acreditam que podem alcançar a estabilida­de social ao colocar as pessoas num microscópi­o, mas esses programas abusivos têm potencial para agravar a hostilidad­e com o governo”, disse Richardson.

Desde a ascensão ao poder de Xi Jinping, a China ampliou o monitorame­nto da dissidênci­a em todo o país.

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REUTERS-25/5/2014 Xinjiang. Muçulmanos uigures vivem no oeste da China

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