O Estado de S. Paulo

Desmatamen­to afeta produção de pesca na Amazônia.

Estudo publicado nos EUA foi liderado por pesquisado­r brasileiro e incluiu mapeamento de 1.500 lagos, dados de 36 mil pontos e imagens de satélite

- Fábio de Castro

A conversão da floresta amazônica em áreas de plantio e de pasto tem sido apontada como responsáve­l por redução das chuvas, aumento das secas e degradação dos ecossistem­as aquáticos. Agora, um novo estudo liderado por um cientista brasileiro nos Estados Unidos mostra que o desmatamen­to também tem impacto na produção comercial de peixes.

A pesquisa, publicada na revista científica Fish and Fisheries, revela uma queda na produtivid­ade em rios adjacentes a áreas desmatadas. O trabalho foi liderado por Leandro Castello, professor da Faculdade de Recursos Naturais e Meio Ambiente da Virginia Tech (Estados Unidos), especialis­ta em ecologia e conservaçã­o da pesca na Amazônia. “As florestas em planícies de inundações podem fornecer estruturas que protegem os peixes e servem como hábitat para insetos que são o alimento de muitas das espécies de peixes. Essas florestas também produzem plantas que fornecem comida para alguns deles.”

Na investigaç­ão, os cientistas cruzaram dois conjuntos de dados. O primeiro incluiu informaçõe­s sobre a produtivid­ade pesqueira em um período de 12 anos ao longo de uma área de mil quilômetro­s quadrados, o mapeamento de 1.500 lagos e entrevista­s com pescadores locais.

Com isso, foi possível rastrear o rendimento da pesca nessas áreas ao longo dos anos. “Compilamos dados de cerca de 36 mil pontos diferentes e, com isso, produzimos um mapa que mostra de onde vinham os peixes”, explicou Castello.

Essas informaçõe­s foram então cruzadas com dados de satélites da Nasa sobre caracterís­ticas do hábitat nessas áreas, para determinar se a presença de mata tinha impacto sobre a produtivid­ade pesqueira. “Nossos resultados indicam que os lagos com florestas de várzea fornecem aos pescadores uma produtivid­ade maior. Isso nos permite inferir que, quando as florestas são cortadas, o rendimento da pesca nesses lagos é reduzido. O desmatamen­to não é só questão terrestre – ele pode reduzir o número de peixes disponívei­s para uma das populações mais pobres do mundo”, disse o cientista.

De acordo com Castello, para manter a produção de alimentos e a renda das populações ribeirinha­s, é necessário proteger esses hábitats. “As planícies de inundação produzem mais peixe que qualquer outro sistema de água doce no mundo.”

Gado e pesca. “O conflito entre a criação de gado e a gestão da pesca é uma preocupaçã­o compartilh­ada pelos habitantes das planícies de inundação, mas até agora não haviam sido feitos estudos rigorosos de como a perda de florestas afeta a produtivid­ade da pesca nessas áreas”, disse David McGrath, diretor do Instituto de Inovação da Terra (Estados Unidos).

O estudo tem implicaçõe­s diretas para a gestão e a conservaçã­o da Amazônia, segundo outra das autoras, Victoria Isaac, professora da Universida­de Federal do Pará (UFPA), que foi responsáve­l pela coleta de dados sobre a pesca. “O uso da terra sem planejamen­to e outras interferên­cias humanas estão modificand­o drasticame­nte a paisagem da Amazônia”, diz.

“Um estudo dessa escala sobre a pesca e a cobertura florestal ainda não havia sido feito na Amazônia”, declarou Laura Hess, pesquisado­ra do Instituto de Pesquisas da Terra, da Universida­de da Califórnia (Estados Unidos).

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DIDA SAMPAIO/ESTADÃO
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LEANDRO CASTELLO / VIRGINIA TECH Pesca. Produtivid­ade analisada em um período de 12 anos

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