O Estado de S. Paulo

Um rolo compressor está passando sobre as contas públicas

- Adriana Fernandes

Se não bastasse a frustração com o adiamento da reforma da Previdênci­a, que foi para a geladeira, o ajuste fiscal deu muitos passos para trás nos últimos dias. Os parlamenta­res aproveitar­am a reta final de votações antes do recesso de fim de ano para passar o “rolo compressor” com a aprovação de propostas que apontam para mais dificuldad­es à frente no campo das contas públicas.

Para piorar: simplesmen­te nenhuma das medidas do pacote fiscal, que a equipe econômica anunciou em agosto, foi aprovada. Sem votar essas medidas, todas elas impopulare­s, o cenário para o início do ano ficará de certo muito mais conturbado e ainda misturado com a tentativa do governo de buscar ainda a votação da reforma da Previdênci­a.

O Orçamento de 2018 já começa sem todas as peças. Um delas sem nenhuma possibilid­ade de reversão: a tributação dos fundos de investimen­to exclusivos, cuja expectativ­a era de uma arrecadaçã­o de R$ 6 bilhões. Como são fundos para investidor­es de altíssima renda, o governo apostava que não encontrari­a resistênci­as no Congresso. Não foi o que aconteceu.

A tributação era a única medida do ajuste fiscal que precisava ser votada este ano para entrar em vigor em 2018. As demais, que afetam em cheio o funcionali­smo público, serão ainda mais difíceis de serem aprovadas. Na equipe técnica do governo, o que mais se ouve é que o Orçamento de 2018 não será fácil de ser cumprido. É sabido que em ano eleitoral as pressões aumentam. O aperitivo já foi observado. Mas o maior revés deste ano foi a decisão do governo do Rio Grande do Norte de pedir, e conseguir, autorizaçã­o do Tribunal de Contas da União (TCU) para que o governo federal concedesse crédito extraordin­ário de R$ 750 milhões ao Estado. A administra­ção estadual alegou que estava em grave crise financeira, com três meses de atraso na folha de pagamento. Com esse decisão, o governo passou por cima do programa de recuperaçã­o fiscal para os Estados que foi negociado com muita dificuldad­e e abriu um precedente sem tamanho para novos pedidos. Todos os governador­es vão bater à porta da equipe econômica. A porteira está aberta.

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