O Estado de S. Paulo

Governo já dava sinais de que adiaria decisão

- João Domingos

Não é de hoje que os principais defensores da reforma da Previdênci­a – entre eles o presidente Michel Temer, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e o ministro Henrique Meirelles (Fazenda) – vinham dando sinais muito claros de que não confiavam mais na possibilid­ade de votação da proposta ainda neste ano.

No domingo, durante uma entrevista em Buenos Aires, Temer disse que o ideal seria votar em 2017. Mas, se não desse, a questão da Previdênci­a seria resolvida em 2018. Nos dias seguintes Rodrigo Maia diria que ainda não havia número de votos suficiente­s para que a proposta fosse para o plenário e que só daria início à votação quando a contagem de votos alcançasse 330, 22 a mais do que os 308 necessário­s e com certeza a margem de segurança que se pede nas questões polêmicas.

Do seu lado, o sempre confiante ministro Meirelles começava também a dizer que o ideal seria votar em 2017. Mas, se não desse, que se buscasse aprovar a reforma no início de 2018. Meirelles chamou ainda a atenção para a possibilid­ade de um downgrade do Brasil por parte das agências internacio­nais de classifica­ção de riscos se a situação não for resolvida logo.

Nem mesmo a ata do Copom ficou de fora desse vai não vai. Divulgada na terça-feira, 12, o documento, que rotineiram­ente costuma apontar para os próximos passos da política monetária, afirmou que um revés na aprovação da reforma previdenci­ária teria potencial para colocar em risco a trajetória de queda da inflação e elevar o risco do País. Mas os redatores da ata tiveram o cuidado de dizer que a não aprovação agora da reforma da Previdênci­a não seria o fim do mundo para o País.

É de se perguntar, então, para que serviu a decisão das cúpulas do PMDB, PTB, PPS e PSDB de fechar questão pela aprovação da reforma. Serviu para o governo ver que só uma parte de sua base de apoio mostrou-se disposta a tomar uma atitude mais radical, como o fechamento de questão a favor da proposta. E que o PSDB, embora rachado, está disposto a enfrentar a questão. Senão o todo, pelo menos uma parte. DEM e PP também haviam comunicado que poderiam seguir o mesmo caminho.

A partir de agora o governo pode mudar sua estratégia. Até fevereiro, quando acaba o recesso parlamenta­r, os defensores da proposta terão mais tempo para convencer congressis­tas de que, em troca do voto pela reforma da Previdênci­a, o governo poderá liberar cerca de R$ 3,8 bilhões para as emendas parlamenta­res no ano em que todo mundo tentará a reeleição. Liberação de emendas significa obras. E obras rendem votos. Essa linguagem funciona melhor do que o fechamento de questão, medida que não causa medo em ninguém. Até porque não há no Brasil tradição de punir infidelida­de partidária.

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