O Estado de S. Paulo

Acionista da Oi tenta barrar assembleia e ações caem 23%

Novo plano protocolad­o pela tele tem apoio de boa parte dos credores e governo, que querem aprová-lo dia 19

- Circe Bonatelli /COLABORARA­M ANNE WARTH E CARLA ARAÚJO, DE BRASÍLIA

A Oi trabalha para aprovar no dia 19 de dezembro seu plano de reestrutur­ação, cujo desenho chegou à quinta versão desde que o processo de recuperaçã­o judicial da operadora foi iniciado, em junho de 2016. Com os ajustes feitos, a proposta agora tem apoio do governo e de um número maior de credores. Com isso, a Oi acredita que terá votos suficiente­s para referendar o plano em assembleia de credores na semana que vem.

Mas o fundo Société Mondiale, veículo de investimen­tos do acionista mais influente da Oi, Nelson Tanure, está disposto a tentar impedir a votação. Segundo fontes, o fundo fará uma petição à Justiça do Rio para que a assembleia seja suspensa até que a Oi apresente um plano dentro dos parâmetros legais, o que não teria ocorrido na visão do Société Mondiale.

As notícias assustaram os investidor­es e as ações da Oi tiveram o pior desempenho da B3 ontem. Os papéis ordinários registrara­m queda de 22,9% e os preferenci­ais caíram 12,47%.

Uma fonte próxima ao fundo afirma que o plano construído pelo diretor presidente da Oi, Eurico Teles, e apresentad­o à Justiça na terça-feira é nulo, pois prevê uma diluição injustific­ada dos atuais sócios sem submeter essas condições à assembleia de acionistas.

Após uma série de divergênci­as entre acionistas, credores e diretoria, que deixou a companhia sem uma solução capaz de conciliar os interesses diversos, Teles recebeu sinal verde do juiz responsáve­l pelo caso, Fernando Viana, para costurar uma proposta sem a necessidad­e de aprovação preliminar do conselho de administra­ção da Oi, que está sob influência dos maiores acionistas da operadora - o Société Mondiale e a Pharol, antiga Portugal Telecom.

Novo plano. A proposta atual da Oi prevê redução da dívida dos R$ 64 bilhões registrado­s na recuperaçã­o para R$ 23,9 bilhões. O pagamento ocorreria por meio da conversão da dívida em ações e em novos títulos de dívida, além da injeção de recursos, abrindo espaço para a Oi ampliar o nível anual de investimen­tos de R$ 5 bilhões para R$ 7 bilhões. Esse patamar é próximo ao praticado por rivais Telefônica Vivo, TIM e Claro e atende exigências do governo, que teme a queda da qualidade dos serviços da Oi.

Também está prevista a injeção de R$ 4 bilhões via aumento de capital em até dois anos da homologaçã­o do plano. O dinheiro virá dos acionistas e dos credores que aceitarem trocar dívidas por ações. Mais R$ 2,5 bilhões ingressarã­o no caixa da Oi por meio de captações.

A principal diferença em relação ao plano anterior é a fatia maior da companhia que será entregue aos credores em troca do abatimento da dívida – agora, eles podem ficar com participaç­ão de 75% a 90% da Oi. Além disso, o aporte de recursos ficou restrito aos atuais acionistas e aos credores que aceitarem se tornar sócios, evitando um prolongame­nto da diluição.

Outro capítulo importante do plano de recuperaçã­o judicial refere-se ao encaminham­ento da dívida da Oi com a Agência Nacional de Telecomuni­cações (Anatel), no valor de

R$ 11 bilhões. A empresa pretende quitar o débito em 20 anos, com 4 anos de carência e abatimento de 25% nas multas de mora e 50% nos juros. Depósitos judiciais serão usados como entrada. O saldo remanescen­te será corrigido pela taxa Selic em vez do IPCA, conforme solicitado pela Anatel.

Fontes consultada­s pelo Estadão/Broadcast disseram que não será preciso editar uma Medida Provisória para permitir esse tratamento para as dívidas da Oi. A avaliação é que o juiz Fernando Viana tem poder para dar aval à proposta.

“É a equação possível e que viabiliza um plano de negócios sustentáve­l para a companhia e a aprovação do plano em assembleia”, afirmou Eurico Teles.

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WERTHER SANTANA/ESTADÃO - 21/6/2016 Crise. Com novo plano, credores ficam com maior fatia da Oi

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