O Estado de S. Paulo

Em novo show, Chico faz pontes na sua obra

Em estreia ontem da nova turnê em BH, teve ainda ‘Fora, Temer’ e tributos

- Adriana Del Ré ENVIADA ESPECIAL BELO HORIZONTE

Por causa de seu posicionam­ento político, Chico Buarque tem sido alvo frequente de ataques nas redes sociais e na rua. Mas, se o compositor tinha algum receio de que algumas dessas pessoas pudessem estar ontem, 13, na plateia do Palácio das Artes, em Belo Horizonte, na estreia de sua turnê Caravanas, e hostilizá-lo, isso foi por terra antes mesmo de as cortinas se abrirem. A ansiedade do público presente, 1600 pessoas que lotavam o teatro do local, explodiu em aplausos e urros assim que Chico Buarque e sua banda apareceram no palco. Eles foram recebidos de pé. O entusiasmo não foi à toa: para os fãs de Chico, a espera foi de 6 anos desde sua turnê anterior, Chico.

O show teve início com 20 minutos de atraso, às 21h20. Além das canções do novo disco, lançado em agosto, fez-se mistério em relação às demais músicas que iriam compor o repertório da nova turnê. E as escolhas dessas músicas foram preciosas. Chico fez pontes entre as músicas inéditas e as canções que ele gravou ao longo dos últimos 50 anos, mostrando a coerência de sua obra como um todo.

Com parte da família na plateia, como a filha Silvia Buarque e os netos Chico Brown e Clara Buarque, que participar­am do novo álbum do avô, Caravanas,

Chico Buarque abriu o show, de pé, ao violão, com Minha Embaixada Chegou (Assis Valente – 1934), Mambembe (Chico Buarque – 1972), e emendou com Partido Alto (Chico Buarque – 1972) e Iolanda (Pablo Milanés – versão de Chico Buarque – 1984) e Casualment­e (Jorge Helder / Chico Buarque – 2017).

Mais adiante, o compositor traçou pontes entre músicas de sua obra, e criou temas dentro do show, como em A Volta do Malandro (Chico Buarque – 1985) e Homenagem ao malandro (Chico Buarque – 1977/1978), e em Outros Sonhos

(Chico Buarque – 2006) e Blues Pra Bia (Chico Buarque – 2017), ambas sobre amores que ficam no campo dos sonhos, dos desejos. Chico também dividiu o show em que parte das músicas cantou em pé, outra parte sentado, e na reta final do show, ele voltou a ficar de pé.

Homenageou seu baterista Wilson das Neves, que morreu este ano e o acompanhou durante décadas, colocando o chapéu caracterís­tico do amigo. Após o tributo a Das Neves de Chico, o plateia entoou o coro ‘Fora, Temer’, com o qual Chico concordou do palco. Um momento emocionant­e foi em Tua Cantiga. E a catarse se repetiu no bis com Geni e O Zepelim e Para Todos. Meus caros amigos, Chico está de volta.

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PEDRO VILELA /ESTADÃO O cantor. Durante o ensaio geral realizado na terça, 12, em Belo Horizonte

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