O Estado de S. Paulo

Chavistas teriam US$ 2,3 bi na Suíça

Poupança. Segundo o jornal ‘El País’, dinheiro seria resultado de suborno pago por empresas estrangeir­as em troca de garantias de contratos com a PDVSA, estatal do petróleo da Venezuela; vários centros financeiro­s europeus foram usados para camuflar negóc

- Jamil Chade CORRESPOND­ENTE / GENEBRA

Ex-ministros de Hugo Chávez teriam usado bancos de Andorra e da Suíça para desviar US$ 2,3 bilhões recebidos em troca de garantias de contratos com a PDVSA.

Bancos de Andorra e da Suíça foram utilizados por pelo menos cinco anos pela cúpula do então presidente Hugo Chávez (1999-2013) para desviar US$ 2,3 bilhões da Venezuela, segundo o jornal espanhol El País. O dinheiro viria de subornos pagos em troca de contratos entre empresas estrangeir­as e a PDVSA, a estatal de petróleo do país.

Os dados revelados pelo jornal espanhol e confirmado­s ontem pelo Estado indicam que o Banco Privado de Andorra, também envolvido em pagamentos de subornos da Odebrecht, foi o canal utilizado para parte dos pagamentos. Dali, o dinheiro seguia para a Suíça. A investigaç­ão, que já dura dois anos, agora permite refazer parte do caminho do dinheiro.

O Estado apurou que, em visita à Suíça, a ex-procurador­a-geral da Venezuela Luisa Ortega Díaz tratou especifica­mente deste caso com os investigad­ores em Berna, em outubro. Depois da Suíça, ela viajou para Madri, onde esteve com autoridade­s espanholas. Foram seus dados que, segundo fontes, completara­m a rota do dinheiro. Sua análise é de que, além de Suíça, Andorra e Espanha, o caminho incluía Emirados Árabes e República Dominicana.

Estima-se que pelo menos 37 contas foram abertas em nome de empresas de fachada, todas no Panamá. Os pagamentos ocorreram entre 2007 e 2012 e envolveram uma dezena de pessoas e laranjas. Em grande parte, os subornos eram pagos por empresas estrangeir­as que buscavam contratos com a PDVSA. Para camuflar os pagamentos, a rota do dinheiro incluía paraísos fiscais e bancos suíços.

Segundo documentos, um dos cabeças do esquema foi o ex-vice-ministro de Energia Nervis Villalobos, responsáve­l por elaborar a estratégia de fornecimen­to de energia no país. Membro do governo entre 2004 e 2006, detido na Espanha em outubro, ele aguarda extradição para os EUA.

Os documentos revelam que Villalobos abriu 12 contas que receberam US$ 146 milhões. Ele alegou ser um engenheiro de sucesso, que seu patrimônio de US$ 82,6 milhões vinha de honorários de serviços de intermedia­ção. Além de Andorra, ele também tinha contas na Suíça.

Outro ex-ministro é Javier Alvarado, que também comandou a Corporació­n Eléctrica Nacional (Corpoelec), empresa suspeita de corrupção nos EUA. Em cinco contas, ele recebeu US$ 55 milhões, mesmo enquanto estava no governo de Chávez. Além de Andorra, ele também mantinha seu dinheiro na Suíça.

O ex-presidente da PDVSA Rafael Ramírez, que comandou a estatal por 12 anos, também é foco da investigaç­ão. O executivo saiu do posto apenas após ganhar imunidade como embaixador da Venezuela na ONU, já no governo de Nicolás Maduro. O dinheiro poderia estar na conta de seu primo Diego Salazar, com sete contas em nome de seis empresas diferentes em Andorra. Sozinho, ele movimentou US$ 25 milhões e foi preso semana passada. Na Venezuela, ambos também são alvo de investigaç­ões.

Foi justamente uma transferên­cia suspeita para uma de suas contas, de ¤ 89 mil, que levou a França a soar o alerta para Andorra. Em 2012, houve outra transação suspeita. Salazar tentou enviar US$ 47 milhões da Suíça para a França, na suposta compra de uma propriedad­e. A rede é completada por Omar Farias, um empresário ligado ao chavismo que teria recebido US$ 692 milhões em Andorra.

O esquema usado pelos intermediá­rios era quase sempre o mesmo. Para justificar ao banco os pagamentos, alegavam que eram comissões por trabalhos de consultori­a. De acordo com as investigaç­ões, esses trabalhos jamais foram realizados.

Segundo o jornal espanhol, a juíza de Andorra, Canòlic Mingorance, suspeita que os chavistas cobravam entre 10% e 15% do total dos contratos com empresas estrangeir­as. Uma parte desses pagamentos pode ter vindo da China que, ao longo dos anos, reforçou sua presença com contratos com a PDVSA.

O banco utilizado para receber os pagamentos era o BPA, de Andorra, o mesmo que foi considerad­o instrument­o para a lavagem de dinheiro de grupos criminosos russos e acabou sofrendo uma intervençã­o. De acordo com Andorra, parte do dinheiro que passou pelo principado saiu antes que fosse bloqueado, em 2015. Na Suíça, o Estado apurou que pelo menos US$ 118 milhões em nome de venezuelan­os estariam bloqueados após suspeita de corrupção.

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JORGE SILVA /REUTERS-7/10/2012 Em 2012. Chávez em Caracas; denúncias de corrupção

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