O Estado de S. Paulo

EUA põem fim à neutralida­de da rede; Brasil pode ter reflexo

Internet. Princípio que garante acesso igualitári­o a qualquer conteúdo online foi derrubado e internet perdeu status de utilidade pública; decisão favorece operadoras, que poderão ajustar velocidade de acesso a redes sociais, streamings de vídeo e outras

- Claudia Trevisan CORRESPOND­ENTE / WASHINGTON

A agência que regula as telecomuni­cações nos EUA decidiu ontem acabar com a neutralida­de da rede. Agora, provedores poderão escolher os conteúdos em suas conexões e discrimina­r a qualidade dos serviços de acordo com o preço. A mudança foi criticada por empresas de tecnologia e entidades de consumidor­es, que pretendem contestá-la na Justiça. A decisão pode ter reflexos no Brasil.

A agência que regula telecomuni­cações nos EUA decidiu ontem acabar com o princípio da neutralida­de da rede, que até agora garantiu que a internet funcione de maneira aberta e igualitári­a tanto para produtores de conteúdo quanto para consumidor­es. Com a mudança, os provedores poderão escolher os conteúdos que trafegam em suas conexões e discrimina­r a qualidade dos serviços.

Na prática, em vez de ser uma estrada desimpedid­a na qual todos andam na mesma velocidade, a internet passará a ter vias expressas ou lentas, dependendo de quanto o usuário ou o dono do aplicativo estiverem dispostos a pagar. Empresas de tecnologia, entidades que representa­m consumidor­es e Estados governados pelo Partido Democrata pretendem contestar a medida na Justiça.

Além de questionar a legalidade, eles argumentam que o processo de consulta para elaboração da proposta foi contaminad­o. Investigaç­ão conduzida pelo procurador-geral de Nova York, Eric Schneiderm­an, concluiu que 2 milhões de comentário­s foram realizados com identidade­s roubadas.

A mudança faz parte da ofensiva do governo Donald Trump para desregulam­entar setores da economia e promete transforma­r a maneira como a internet funciona. Os grandes beneficiár­ios serão as operadoras de telecomuni­cações, que oferecem conexão. A neutralida­de da rede havia sido aprovada em 2015 pela Comissão Federal de Comunicaçõ­es (FCC, na sigla em inglês). A proposta para rejeitá-la foi aprovada por três dos cinco comissário­s ligados ao Partido Republican­o.

O governo sustenta que a neutralida­de da internet, que passou a ser garantida durante o governo Barack Obama, reduziu investimen­tos, ao restringir a ação das leis de mercado. “Desde então, investimen­tos em banda larga caíram por dois anos seguidos, na primeira vez em que isso aconteceu fora de uma recessão na era da internet”, diz a proposta.

Mas os críticos afirmam que a decisão limitará a rede. Segundo eles, os provedores poderão cobrar mais por velocidade­s mais rápidas de conexão, o que prejudica o acesso a consumidor­es por startups. Também há preocupaçã­o com a liberdade de expressão, pois provedores poderão excluir conteúdos.

“Isso é uma flagrante ataque à nossa democracia”, escreveu o senador democrata Bernie Sanders no Twitter. “A internet estará à venda para quem pagar mais.”

O Netflix criticou a mudança e disse que ela é o início de uma longa batalha legal. Segundo a empresa, este princípio conduziu a um período de “inovação, criativida­de e engajament­o cívico sem precedente­s”.

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JACQUELYN MARTIN/AP Bandeira. Fim da neutralida­de era defendido por presidente da FCC desde o início do mandato
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