O Estado de S. Paulo

Emílio antecipa sua saída do Conselho da Odebrecht

A quatro dias da libertação do filho Marcelo, Emílio Odebrecht deve anunciar que deixará cargo no 1º semestre, e não mais no fim de 2018

- Renée Pereira

Emílio Odebrecht deve deixar a presidênci­a do Conselho do grupo no primeiro semestre, informa Renée Pereira. Acordo de colaboraçã­o firmado por ele previa que o empresário ficaria até dezembro de 2018. A empresa implemento­u regras de compliance nos últimos dois anos, e a antecipaçã­o da saída do patriarca seria mais uma medida nesse sentido. Emílio deve ficar com a presidênci­a da Kieppe.

Quatro dias antes do empresário Marcelo Odebrecht deixar a prisão em Curitiba (PR), depois de dois anos e meio detido, o patriarca do grupo Emílio Odebrecht tenta sinalizar ao mercado que as práticas da empresa mudaram. Hoje, numa reunião em Salvador, na Bahia, ele pretende informar aos líderes do grupo a antecipaçã­o de sua saída da presidênci­a do conselho, afirmou uma fonte ligada à companhia.

Apesar de ter admitido casos de corrupção na empresa, o empresário foi autorizado, dentro do acordo de delação premiada, a permanecer na presidênci­a até dezembro de 2018 para reestrutur­ar os negócios do grupo. Agora, conforme apurou o Estado, esse prazo seria encurtado para o primeiro semestre do ano que vem. Uma fonte afirmou que inicialmen­te ficou definido o mês de abril para sua saída. Mas essa data pode ser negociada. Procurada, a Odebrecht não quis comentar o assunto.

Desde que Marcelo foi preso, em 2015, a empresa implemento­u uma série de regras de conduta dos funcionári­os e transparên­cia para tentar desassocia­r a imagem do grupo às práticas de corrupção, descoberta­s na Operação Lava Jato. Uma das primeiras providênci­as foi colocar no conselho de administra­ção profission­ais de várias áreas do mercado. A saída de Emílio, antes do prazo, é mais uma medida nesse sentido. Não adianta fazer várias mudanças se as pessoas no comando da empresa continuam as mesmas, afirma uma fonte do grupo.

Com a saída do conselho, o dono da Odebrecht ficará apenas na presidênci­a da Kieppe, empresa pertencent­e à família Odebrecht e que controla a Odebrecht S.A. Na reunião de hoje, que começa pela manhã, o pai de Marcelo Odebrecht vai fazer um balanço das medidas adotadas pelo grupo e os resultados conquistad­os até agora.

Também vai mostrar os próximos passos que serão adotados pelo conglomera­do baiano para se manter vivo no mercado. Segundo uma fonte, o planejamen­to deve incluir novos enxugament­os no quadro de funcionári­os e a venda de ativos. Desde que a Operação Lava Jato foi deflagrada em 2014, o império da Odebrecht não para de encolher. Quase 120 mil funcionári­os foram cortados e ativos de R$ 7,4 bilhões foram vendidos. A ordem é adequar as despesas às receitas, que só no ano passado caíram 13%.

Na construtor­a, DNA do grupo, o estoque de obras caiu de US$ 33,8 bilhões para US$ 15 bilhões neste ano – sendo que boa parte desse valor está no mercado internacio­nal. A empresa também deve eleger alguns países para continuar trabalhand­o. Como o escândalo da Lava Jato alcançou quase todos os países onde a empresa atuava, em alguns locais o ambiente ficou difícil de trabalhar. A ideia é focar em nações onde a empresa tem obras em andamento e aqueles com grande potencial de cresciment­o, disse um executivo.

Desconfort­o. A saída de Marcelo Odebrecht da prisão tem causado um certo desconfort­o no grupo. A preocupaçã­o é que todos os esforços feitos até agora para tentar mostrar ao mercado a mudança de postura do grupo caiam por terra com a tentativa do executivo de interferir na administra­ção. Desde a Lava Jato, a empresa foi obrigada a adotar uma série de estratégia­s para continuar de pé. Uma delas tem sido a troca de nome das empresas para desvincula­r os negócios da corrupção e também atrair novos sócios para aportar recursos.

A mudança de nome já ocorreu na Odebrecht Realizaçõe­s Imobiliári­as que passou a se chamar OR e na Odebrecht Agroindust­rial que ganhou a marca de Atvos. Até a construtor­a procura um sócio e quer abrir o capital na Bolsa. Se for preciso, o nome da empreiteir­a poderá mudar.

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STF - 11/4/2015 Cargo. Emílio deverá ficar só como presidente da Kieppe, controlado­ra da Odebrecht

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