O Estado de S. Paulo

‘Não estamos atrás de placas ou homenagens’

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Preso em julho de 1972 no setor de prensas, onde trabalhava, o ex-funcionári­o da Volkswagen Lúcio Bellentani foi levado a uma sala onde, segundo ele, recebeu socos, chutes e pontapés. Depois foi transferid­o para o Departamen­to de Ordem Política e Social (Dops). Ficou preso por quase dois anos, levou choques, teve dentes arrancados com alicates, entre outros tipos de tortura. Hoje, com 72 anos, preferiu participar de um protesto em frente aos portões da montadora a ir ao evento. No pequeno grupo estavam dois outros ex-funcionári­os que também foram perseguido­s pela ditadura.

• Qual sua avaliação sobre o relatório?

É ridículo. Não traz nenhuma prova concreta do que a Volkswagen fez, ao contrário dos documentos já disponívei­s no Ministério Público. O professor Christophe­r Kopper tem muita credibilid­ade, mas acho que a empresa não abriu todo seu arquivo a ele.

• O presidente da Volkswagen, Pablo Di Si, disse que lamenta muito o que ocorreu, mas que, segundo o próprio relatório, não houve uma cooperação institucio­nalizada na repressão.

É um cinismo por parte dele. O MP tem mais de 500 documentos com provas de violações ocorridas dentro da empresa que eram de conhecimen­to da direção.

• O que acha da placa inaugurada ontem?

Não estamos atrás de placas ou homenagens. Queremos que a empresa se apresente ao MP – o que não fez até agora – e inicie um processo de negociação para evitar a judicializ­ação do processo.

• O que o grupo reivindica? Queremos que a empresa venha à publico dizer que errou e faça uma reparação coletiva. Pode ser um memorial, um museu para que os jovens conheçam a verdadeira história da ditadura no País. Também pedimos indenizaçã­o coletiva. Alguns ex-funcionári­os que nunca mais conseguira­m empregos por terem os nomes em uma “lista negra” passaram e passam por muitas dificuldad­es.

• A empresa diz que, no momento, não pensa em indenizaçã­o. Se houver a judicializ­ação do processo, quem decidirá isso será a Justiça./ C.S.

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