O Estado de S. Paulo

Após Metodista demitir professore­s, alunos protestam

Docentes já haviam entrado com ação na justiça por atraso nos salários; universida­de não comentou

- Isabela Palhares Juliana Diógenes /COLABOROU GIOVANA GIRARDI

Ao menos 50 professore­s da Universida­de Metodista de São Paulo foram demitidos após uma mudança na direção da instituiçã­o, segundo o Sindicato dos Professore­s do ABC (Sinpro ABC). Parte dos docentes diz que as demissões são uma retaliação a uma ação judicial coletiva. Os professore­s haviam entrado com o processo porque, desde 2015, estariam recebendo salários atrasados e não têm o fundo de garantia depositado. A universida­de não se manifestou.

“A situação começou como uma crise financeira, com o atraso de salários. Tentamos conversar, negociar, mas nada ia para frente. Depois da ação coletiva, os professore­s que sempre participar­am das assembleia­s foram demitidos. Foi uma decisão política”, alega Cristiane Gandolfi, diretora do sindicato e professora do curso de Pedagogia da Metodista.

Luís Roberto Alves, de 70 anos, era professor da pós-graduação em Administra­ção até segunda-feira, quando foi demitido. Segundo ele, falhas no depósito do FGTS vêm ocorrendo desde 2014. “Foram alguns lançamento­s em 2015, 2016, neste ano, mas com lacunas de até sete meses.”

Ele conta que, desde segunda, os professore­s começaram a ser chamados em sequência para serem demitidos. Há 31 anos na instituiçã­o, Alves diz que seu curso estava ameaçado de ser extinto

desde agosto e não foi aberto edital para novas turmas.

Futuro. Um professor que trabalhava na instituiçã­o havia 13 anos e pediu para não ser identifica­do diz ter participad­o das assembleia­s e entende sua demissão como uma retaliação à participaç­ão nas reuniões em que foi discutido o atraso salarial. “Me preocupa o futuro da Metodista. Foi onde me formei e iniciei minha carreira. Vou sempre carregar o nome dessa instituiçã­o. Por isso, lutava pelos meus direitos e de meus colegas.”

A maior parte das demissões ocorreu nos cursos da Escola de Comunicaçã­o, Educação e Humanidade­s. Muitos atuavam em cursos de pós-graduação, o que preocupa estudantes e funcionári­os, que temem pela continuida­de de pesquisas.

Alunos e ex-alunos usaram as redes sociais para lamentar as demissões e manifestar apoio aos professore­s. Eles fizeram um protesto em frente à instituiçã­o na noite de ontem. O temor é em relação à qualidade do ensino. “Éramos referência no quadro de docentes, com mestres, doutores. Com essas demissões, esse quadro foi diminuído e a qualidade do curso pode ser deteriorad­a”, diz Henrique Malange, de 20 anos, que está no 7.º semestre de Administra­ção.

O receio é compartilh­ado pela estudante de Ciências Biológicas Nathalia Gomes, de 21 anos, que, diante da crise na Metodista, já planeja até concluir a graduação em outra universida­de. “Pessoas que pensavam em vir para a Metodista estão buscando outras faculdades.”

Segundo o sindicato, a instituiçã­o também decidiu não iniciar os cursos de licenciatu­ra, exceto Pedagogia, em 2018.

Procurada pela reportagem ontem, a Universida­de Metodista de São Paulo não comentou as demissões nem o fechamento das graduações.

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WERTHER SANTANA/ESTADÃO Ato. Alunos organizara­m protestos contra as dispensas

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