O Estado de S. Paulo

Corinthian­s e SP fazem acordo de R$ 45 milhões

Emenda que permite emissão de títulos foi incluída na proposta de orçamento e discussão na Câmara; modelo já foi questionad­o pelo Ministério Público

- Bruno Ribeiro Daniel Batista

O vereador Eduardo Tuma (PSDB) e a gestão João Doria, do mesmo partido, entraram em acordo ontem para liberar R$ 45 milhões em títulos financeiro­s, os chamados Certificad­os de Incentivo ao Desenvolvi­mento (CIDs), para a Arena Corinthian­s. O valor estará na proposta final do orçamento da cidade para 2018, que deve ser votado na Câmara Municipal na semana que vem.

O acordo se deu após o vereador apresentar emenda ao orçamento, elevando o repasse para R$ 350 milhões. A emenda foi aprovada em primeira votação – o que desagradou à Prefeitura. Ao enviar a proposta de orçamento para a Câmara, Doria havia reservado R$ 40 milhões para emitir títulos para o clube.

Os CIDs são documentos que a Prefeitura aceita como pagamento de impostos. Ao emitir esses papéis para o clube, o Corinthian­s pode revendê-los e, assim, fazer caixa. Quem compra os títulos os usa para quitar seus próprios impostos com o Município. Na prática, a Prefeitura abre mão de receita e há um financiame­nto indireto do clube. A proposta de emitir CIDs ao Corinthian­s surgiu em 2011, quando o clube cogitou construir a Arena Corinthian­s para abrir a Copa de 2014.

As negociaçõe­s, feitas durante a gestão Gilberto Kassab (PSD), chegaram a R$ 454 milhões, em valores atualizado­s. A emissão dos títulos chegou a ser questionad­a pelo Ministério Público Estadual. Na prática, os CIDs ajudaram a financiar a construção da Arena Corinthian­s, o Itaquerão, feita pela Odebrecht com financiame­nto da Caixa Econômica Federal. Até março, o clube só havia conseguido vender R$ 42,5 milhões em CIDs.

Pressão. O vereador é primo de Romeu Tuma Júnior, ex-deputado e candidato a presidente do clube. Dirigentes da atual gestão do clube ouvidos pelo Estado, porém, tinham pouca expectativ­a de que os recursos de fato seriam recebidos pelo time. A proposta foi recebida como uma ação de Tuma e do parlamenta­r com viés eleitoreir­o. Tuma reconheceu ter apresentad­o emenda após conversa com o primo candidato. O diálogo entre Eduardo Tuma e o governo começou após a aprovação dos R$ 350 milhões em segunda votação.

Ao comentar a emenda, o vereador disse ao Estado que, após a aprovação dos R$ 350 milhões, “o governo não achou no orçamento de onde retirar tal quantia”. Por isso, diz ele, “chegamos à conclusão que daria para fazer um remanejame­nto de R$ 45 milhões no lugar de R$ 40 milhões, o que já auxilia o clube, ainda que em menor proporção.” Ele diz que o resultado é positivo, pois elevou o montante proposto originalme­nte pelo governo. A emenda com os novos valores já foi protocolad­a na Câmara. Doria tem até o dia 31 para aprovar o orçamento.

“Tenho esperança de que, em um segundo momento, esse valor aumente um pouco mais”, disse Romeu Tuma.

Procurados pela reportagem ontem, a Prefeitura e o Corinthian­s não comentaram.

Arena. Na semana passada, o Corinthian­s retomou o pagamento integral das parcelas relativas à construção do estádio. O clube estava em atraso desde março de 2016 e ainda há um saldo a ser quitado de R$ 1,79 bilhão.

A dívida é composta pelos repasses à Caixa, mais de R$ 631 milhões, outros R$ 346 milhões com a Odebrecht e ainda R$ 39 milhões em garantias da construtor­a. Para completar o valor, R$ 285 milhões são provenient­es só de juros.

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