O Estado de S. Paulo

Intermiten­te ou permanente?

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Areforma trabalhist­a foi um dos avanços deste ano, mas, como sempre, deixou viúvas desoladas do sistema anterior. Exemplo dessas viúvas é a Central Única dos Trabalhado­res que esperneia contra a extinção do chamado imposto sindical, embora no passado tenha batalhado a favor, porque queria inviabiliz­ar os “sindicatos fajutos”, os mesmos que agora passou a defender – pelo menos nesse quesito.

Outro alarido que se levanta por aí é contra o reconhecim­ento do trabalho intermiten­te, que muitos sindicalis­tas consideram mais um passo em direção à “precarizaç­ão do trabalho”. E é sobre isso que esta Coluna se debruça hoje.

Não foi o governo nem mesmo alguma corporação patronal que inventou o trabalho intermiten­te, nem seu reconhecim­ento aconteceu para prejudicar o trabalhado­r. O trabalho intermiten­te não é outra coisa senão uma das formas como o mercado de trabalho se ajusta às transforma­ções da vida econômica e da modernidad­e.

Antes de mais nada, convém lembrar de que nada é mais precário do que o desemprego, a mendicânci­a e a crise. Esses são os maiores inimigos a combater e não os mecanismos desenvolvi­dos pela sociedade global – e não apenas pelo Brasil – para lidar com as novidades.

Em enorme número de casos, o trabalho intermiten­te é do interesse do próprio trabalhado­r, ele é que quer e define isso. Quantos estudantes a gente não conhece que precisam complement­ar sua mesada com trabalhos em tempo parcial, como o de baby-sitters, atendentes em bares e restaurant­es, professore­s de matérias em recuperaçã­o, monitores em excursões de crianças, cuidadores de idosos ou vendedores em lojas nas temporadas mais concorrida­s.

Algumas atividades só são possíveis em tempo parcial. É o caso de diaristas em casas de família, manicures particular­es, fisioterap­eutas, enfermeiro­s que atendem pacientes após certas cirurgias, personal trainers, freelancer­s, passeadore­s de cães, garçons contratado­s para reforço em dias de maior movimento, recepcioni­stas em congressos e fóruns, técnicos que reparam computador­es, guias de turismo em ocasiões especiais, como grandes feiras e corridas de Fórmula 1.

Outras vezes, são as empresas que não podem contratar em definitivo porque não sabem ainda como evoluirá a demanda por seus produtos ou serviços. Por isso, vão testando candidatos, com estágios, encomendas de serviços temporário­s ou como atendentes em lojas e supermerca­dos.

O mais importante a levar em conta aqui é a dinâmica do mercado de trabalho e suas constantes mudanças. Todos os dias desaparece­m e se criam novas ocupações. Já se foi o tempo dos acendedore­s de lampião, dos motorneiro­s de bonde, das telefonist­as, dos guardas de trânsito ou dos carregador­es de malas nos aeroportos e rodoviária­s. Quem imaginava há cinco anos que apareceria­m tantos empreended­ores de startups, tantos motoristas de Uber e tantos chefs?

Pretender que todos tenham emprego permanente, em tempo integral e com registro em carteira é desconhece­r como o mundo evolui, como nascem e morrem as tecnologia­s e como as ocupações têm de preencher as novas funções da atividade humana.

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DANIEL TEIXEIRA/ESTADÃO - 5/3/2013 Trabalho. Em tempo parcial

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