O Estado de S. Paulo

Fundos de pensão terão regra similar à de bancos

Previdênci­a complement­ar. Medidas que serão anunciadas na segunda-feira incluem a suspensão provisória de diretores e conselheir­os e a transferên­cia de planos para outras fundações, quando forem constatada­s irregulari­dades na administra­ção

- Murilo Rodrigues Alves BRASÍLIA

Na segunda-feira, serão anunciadas novas normas de supervisão dos fundos de pensão, setor que acumula rombo de R$ 65,6 bilhões. A suspensão cautelar de diretores é uma das novas medidas, que devem ser similares às regras aplicadas aos bancos. Um plano também poderá ser transferid­o de entidade se não houver capacidade de administra­ção e multas por infrações deverão ficar mais caras.

O órgão responsáve­l pela fiscalizaç­ão dos fundos de pensão, a Previc, vai divulgar na segunda-feira um pacote de novas regras de supervisão para evitar que irregulari­dades causem prejuízos a funcionári­os, aposentado­s e empresas que participam dos planos de aposentado­ria complement­ar.

Entre as medidas está a suspensão provisória de diretores e conselheir­os antes mesmo de uma intervençã­o no fundo. Se a Previc considerar que a administra­ção está sendo feita de forma irresponsá­vel, ela pode, em última análise, transferir o plano para outro fundo. O órgão regulador também ficará em cima para ter certeza que as gestores estão cientes dos riscos ao fazer as aplicações ou se estão fazendo aportes considerad­os inadequado­s ou incompatív­eis com a estrutura do fundo.

O setor acumula neste ano até setembro um rombo de R$ 65,6 bilhões (esse é o montante que faltaria se todos os benefícios tivessem de ser pagos hoje). Há dois meses, o Postalis, fundo de pensão dos trabalhado­res dos Correios, foi alvo de uma intervençã­o da Previc. Os fundos de pensão ligados a empresas públicas estão na mira do Ministério Público Federal, que apura fraudes na aplicação dos recursos dessas fundações, entre elas o Postalis.

Com as medidas que serão anunciadas na segunda-feira, a Previc quer aproximar a regulação aplicada aos fundos de pensão da que é direcionad­a aos bancos. “Nosso diagnóstic­o foi de que a regulação foi, de certa forma, permissiva por muito tempo, e distante das melhores práticas. Precisamos fechar esse ‘gap’ regulatóri­o e modernizá-lo”, afirma Fábio Coelho (ver página B3).

Além das normas prudenciai­s, a Previc também trabalha numa revisão das multas que são aplicadas a dirigentes e conselheir­os por infrações como gestão fraudulent­a. Hoje, a punição máxima é de R$ 40 mil por infração por pessoa. A ideia é aumentar esse valor. O número não está fechado, mas a intenção é se espelhar em outros órgãos reguladore­s que aumentaram recentemen­te o valor das penalidade­s.

O BC subiu para até R$ 2 bilhões, ou 0,5% das receitas de serviços e de produtos do ano anterior (o que for maior) – antes era de R$ 250 mil. A CVM aumentou de R$ 500 mil para R$ 50 milhões. O aumento no rigor do BC e da CVM precisou do aval do Congresso. No caso da Previc, basta um decreto do presidente da República.

A indústria dos fundos de pensão é composta por 302 entidades, que administra­m 1.105 planos de benefícios. São 7,2 milhões de associados, entre participan­tes que estão na ativa, dependente­s e assistidos. Hoje, dez planos concentram quase 90% do déficit de todo o sistema.

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