Presidente do Peru pode cair por elo com Odebrecht
Crise em Lima. Maioria no Parlamento, fujimoristas conseguem apoio necessário e iniciam processo para derrubar Kuczynski; após líder negar qualquer relação com construtora brasileira, surge prova de que consultora dele recebeu US$ 782 mil da empresa
O Congresso peruano começou ontem o processo de destituição do presidente do país, Pedro Pablo Kuczynski. Uma CPI revelou que ele ocultou o recebimento de US$ 782 mil da Odebrecht por meio de uma firma de consultoria quando era ministro de Alejandro Toledo. Os fujimoristas, que pedem a saída de Kuczynski, têm 71 deputados e precisam de mais 16 para tirá-lo do cargo.
O Congresso do Peru deu início ontem ao processo de destituição do presidente Pedro Pablo Kuczynski, após uma CPI descobrir que ele ocultou US$ 782 mil recebidos da Odebrecht por meio de uma firma de consultoria. O pagamento foi feito quando Kuczynski era ministro de Alejandro Toledo, entre 2004 e 2006. Os fujimoristas, maioria no Parlamento, exigiram a renúncia do presidente ou a abertura de um processo de impeachment.
Opositores do partido fujimorista Força Popular reuniram 27 assinaturas de um total de 130 congressistas, entre legendas de diferentes tendências, para iniciar o trâmite para derrubar Kuczynski por “permanente incapacidade moral”. O próximo passo é que 52 parlamentares votem a favor do pedido, o que deve ocorrer na quinta-feira.
O presidente terá direito a defesa e a oposição precisa de 87 votos para tirá-lo do cargo. Os fujimoristas têm 71 deputados e precisam de mais 16. Partidos menores deram sinais – mesmo na extrema esquerda, mais avessa ao fujimorismo – de que apoiarão a moção. O processo, segundo analistas, deve ser concluído até a semana que vem.
Caso perca o cargo, Kuczynski deve ser substituído por um de seus vice-presidentes: Martín Vizcarra, também envolvido em denúncias, e Mercedes Araóz, mais próxima da oposição. Ela seria a primeira mulher a chegar à presidência do Peru. Caso os dois também acabem destituídos, o Congresso deve convocar novas eleições.
Denúncias. A Odebrecht revelou na terça-feira ao Congresso ter pago US$ 782 mil por consultorias a uma empresa de Kuczynski. Os dados foram fornecidos pela empresa à comissão que investiga os desdobramentos da Lava Jato no Peru.
“Um documento assinado por Mauricio Cruz, representante da Odebrecht Peru, destaca que a empresa ligada diretamente a Kuczynski prestou serviço de consultoria por US$ 782.207 à empresa do grupo Odebrecht”, diz uma nota do Congresso.
O presidente admitiu ser dono da empresa, mas alegou que não participou do gerenciamento de lucros enquanto trabalhava como ministro. “Peço o levantamento do meu sigilo bancário para que revisem tudo o que queiram e assumo todas as responsabilidades dos meus atos”, respondeu Kuczynski. “Não vou renunciar, nem à minha honra, nem aos meus valores, nem às responsabilidades como presidente de todos os peruanos.”
No mês passado, Kuczynski negou veementemente ter qualquer ligação profissional ou política com a Odebrecht. A contradição abriu caminho para que a oposição alegasse que ele mentiu durante o exercício do cargo.
Negociações. Segundo o deputado fujimorista Héctor Becerril, os principais partidos de oposição discutirão os próximos passos do processo. Os esquerdistas da Frente Ampla e o Partido Aprista, que também assinarão a moção de destituição, devem votar pelo afastamento. “Ele teve a chance de renunciar e não foi capaz. Quer se aferrar ao poder”, disse Becerril.
Dada a força da oposição no Congresso, analistas peruanos duvidam que o presidente consiga se manter no poder. “Qualquer que seja o cenário, a crise está cada vez mais tensa”, disse o consultor Larrain Vial.
Os desdobramentos da operação Lava Jato já levaram para a cadeia o ex-presidente Ollanta Humala. Alejandro Toledo tem contra si um mandado de prisão internacional e o ex-presidente Alan García também está envolvido nas denúncias, assim como a líder da oposição, Keiko Fujimori, que, segundo o acordo de delação da Odebrecht, teria recebido doações da empresa na eleição de 2011. A força tanto da Apra quanto do Força Popular no Legislativo e no Judiciário, no entanto, torna mais difícil esses casos avançarem.