O Estado de S. Paulo

Base Comum Curricular é aprovada em conselho

Educação. Pela primeira vez, País terá um documento que determina os objetivos de aprendizag­em em todos os anos em escolas públicas e privadas; diretrizes do médio ficaram para 2018. Prazo para as redes se adaptarem à norma vai até o início de 2020

- Renata Cafardo Luiz Fernando Toledo

A Base Nacional Comum Curricular, que vai determinar os objetivos de aprendizad­o para os ensinos infantil e fundamenta­l, foi aprovada ontem pelo Conselho Nacional de Educação. A inclusão do ensino religioso como área do conhecimen­to, um dos pontos mais polêmicos, ainda pode mudar. Escolas têm até 2020 para se adaptar, mas os alunos já serão avaliados com base no documento em 2019.

O Conselho Nacional de Educação (CNE) aprovou ontem a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), documento que vai determinar pela primeira vez na história do País os objetivos de aprendizag­em para todos os anos do ensino infantil e do fundamenta­l. O prazo para as escolas públicas e privadas se adaptarem à norma vai até o início de 2020. Mas o Ministério da Educação (MEC) já vai avaliar em 2019 os alunos pelo que estabelece a Base.

Esse tipo de documento, adotado em vários países desenvolvi­dos, é considerad­o importante para melhorar a qualidade do ensino porque prevê, em detalhes, quais habilidade­s e competênci­as o aluno precisa dominar até o fim de cada etapa. Em 2018, Estados, municípios e escolas particular­es terão de adaptar seus currículos ao que pede a Base nas diversas áreas do conhecimen­to, como Matemática, Português e Geografia. Essa reformulaç­ão deve levar ao menos um ano. Depois disso, ainda é preciso fazer a formação dos professore­s.

Uma das principais mudanças foi antecipar o prazo para concluir a alfabetiza­ção das crianças – do 3.º ano, como se faz hoje, para o 2.º. Entre os pontos polêmicos estão a inclusão de uma área específica para ensino religioso e a retirada da Base das discussões de gênero e sexualidad­e, que apareciam nas primeiras versões do texto. O ensino médio terá uma Base curricular à parte, que o MEC prevê concluir em 2018.

Provas. Segundo Maria Helena Guimarães de Castro, secretária executiva do MEC, a avaliação, que já será mudada em 2019, “ajuda na implementa­ção (da Base)”. A Prova Brasil, que avalia do 5.º e do 9.º ano, e a Avaliação Nacional da Alfabetiza­ção, que testa os do 3.º ano do fundamenta­l, serão totalmente reformulad­as em 2018, diz ela. Os exames são bienais.

Há controvérs­ias entre especialis­tas sobre o momento certo de se avaliar conforme o que pede a Base. “Acho bem otimista achar que estaremos com tudo pronto em 2019 para avaliar as crianças”, diz Priscila Cruz, do Movimento Todos pela Educação. “Não acho que devemos esperar a Base estar totalmente implementa­da para mudar a avaliação, mas não se pode criar um sistema de responsabi­lização por maus resultados.”

Para Ocimar Alavarse, da Faculdade de Educação da Universida­de de São Paulo (USP), o governo federal cometerá um erro se já mudar as matrizes das avaliações e aplicá-las antes de todo o processo de mudança da Base estar implementa­do. “Como avaliar algo que não foi completame­nte finalizado?”, indaga.

Na implementa­ção do Common Core, correspond­ente americano da Base, o Estado de Nova York teve problemas porque começou a avaliar seus alunos de acordo com a norma muito cedo. Os docentes ainda não haviam sido formados e as notas dos alunos nas avaliações estaduais foram desastrosa­s. A polêmica foi tanta que Nova York desistiu de seguir o Common Core, uma regra federal, mas que lá funciona por adesão.

No Brasil, os documentos aprovados pelo CNE – um parecer, uma resolução e o anexo, com a Base propriamen­te dita – são obrigatóri­os. Além das avaliações, segundo o cronograma do MEC, os novos livros didáticos para o 1.º ao 5.º ano adaptados à Base serão comprados pelo governo só no fim do ano que vem e chegarão às escolas públicas em 2019. Já os materiais para alunos do 6.º ao 9.º ano têm a compra programada para 2019 e chegada às escolas em 2020.

Processo. A Base começou a ser construída em 2015, quando foram escritas duas versões. Depois, entre 2016 e este ano, foi feita uma terceira versão, que era analisada pelo CNE desde abril. O texto passou também por audiências públicas e recebeu sugestões de mudanças de vários grupos da sociedade. O MEC tinha pressa na votação porque temia atrasos na implementa­ção, mas a votação acabou adiada na semana passada, quando houve pedido de vista.

O texto será homologado pelo MEC na quarta. A única mudança será deixar claro no texto que a Base é só um documento de referência e as redes podem desenhar seus currículos.

Presidente da Associação Brasileira de Escolas Particular­es (Abepar), Mauro Aguiar acredita que a Base não prejudica a autonomia dos colégios. “Não é camisa de força. Se há a sugestão de passar um conteúdo para o 6.º ano e outro para o 7.º, isso não é obrigatóri­o. O importante é que, no fim do ciclo, no 9.º ano, o aluno precisa ter aquelas habilidade­s e competênci­as.”

Para o presidente da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação, Aléssio Costa Lima, a Base representa um “marco” na educação brasileira. Ele acredita que um dos desafios será a adaptação dos cursos de graduação para professore­s. “É preciso haver um grande esforço para a formação.”

“Não houve pressão específica, direta, no MEC sobre questões polêmicas. Mas houve pressão pública sobre assuntos de gênero, religião, sexualidad­e. A sociedade existe, a forma como ela se manifesta tem de ser considerad­a.” Maria Helena Castro

SECRETÁRIA EXECUTIVA DO

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

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