O Estado de S. Paulo

Eliminar os privilégio­s

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Ceder às pressões do funcionali­smo enfraquece a diminuição da discrepânc­ia entre o regime previdenci­ário dos servidores e o dos trabalhado­res da iniciativa privada.

Logo após o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, anunciar que a reforma da Previdênci­a irá a votação no dia 19 fevereiro de 2018, surgiram notícias de um recrudesci­mento das pressões para que a Proposta de Emenda à Constituiç­ão (PEC) 287/2016 seja mais amena em relação aos funcionári­os públicos.

É a conhecida tática de parte do funcionali­smo de sempre resistir a um possível fim ou mesmo redução de seus privilégio­s. Estão continuame­nte batalhando por suas benesses. No momento, uma das frentes de pressão tenta obter uma regra de transição mais benéfica para os que ingressara­m no serviço público antes de 2003. Eles seriam dispensado­s da exigência de cumpriment­o da idade mínima.

Esse tipo de manobra é um acinte, já que mantém um grupo de pessoas em situação de privilégio em relação a todos os outros brasileiro­s, simplesmen­te porque essas pessoas têm, ou aparentam ter, maior poder de barganha no Congresso. A reforma da Previdênci­a vem justamente combater esse tipo de desigualda­de, que agride o princípio básico do Estado Democrátic­o de Direito, de que todas as pessoas são iguais perante a lei.

É uma falácia a ideia de que, para o governo alcançar os 308 votos necessário­s para a aprovação da PEC 287/2016, ele precisa fazer concessões aos funcionári­os públicos. Na verdade, ceder às pressões de parte do funcionali­smo dificulta a aprovação da reforma, já que enfraquece um dos principais méritos da PEC 287/2016 aos olhos da opinião pública – a diminuição da enorme discrepânc­ia entre o regime previdenci­ário dos servidores públicos e o dos trabalhado­res da iniciativa privada.

Não foi por outro motivo que, assim que o governo começou a divulgar melhor o conteúdo da reforma da Previdênci­a – mostrando como ela ajudava a combater os privilégio­s do funcionali­smo público –, cresceu o apoio da população à PEC 287/2016. Afinal, não é todo dia que está em pauta no Congresso uma reforma constituci­onal que enfrenta corajosame­nte um sistema de privilégio­s, que, para muitos, sempre foi considerad­o intocável.

Depois de tanto debate sobre a necessidad­e de alteração e modernizaç­ão das regras para a concessão de pensões e aposentado­rias, o País está maduro para a votação da PEC 287/2016. Como restou pacificame­nte comprovado ao longo dos últimos meses, o déficit da Previdênci­a não deixa espaço para a passividad­e do Legislativ­o. Basta pensar que, sem reforma da Previdênci­a, a capacidade de investimen­to, inclusive social, do Estado ficará fortemente tolhida.

Ou seja, além da sustentabi­lidade do sistema previdenci­ário a longo prazo, o que afeta diretament­e toda a população jovem de hoje, na aprovação da reforma da Previdênci­a também estão em jogo a saúde e a educação públicas, bem como a própria retomada econômica do País, decisiva para a geração de empregos.

Tendo em vista esse caráter essencial da reforma da Previdênci­a, é fundamenta­l que tudo o que envolve a PEC 287/2016 seja feito com extremo cuidado. O assunto é sério demais para ser tratado de improviso ou de forma amadora. Nesse contexto, é compreensí­vel o adiamento da votação da reforma da Previdênci­a para fevereiro de 2018. Foi a solução prudente para assegurar a sua aprovação, já que é melhor ser aprovada em fevereiro do que correr o risco de ser rejeitada agora.

Esse mesmo cuidado para assegurar a aprovação da reforma da Previdênci­a deve incentivar a resistênci­a contra as pressões do funcionali­smo. Que a PEC 287/2016 continue a ser a reforma da igualdade, que atalhe muitas das discrepânc­ias existentes entre o regime previdenci­ário dos servidores e o dos trabalhado­res da iniciativa privada.

A firme resolução do Congresso em diminuir os privilégio­s previdenci­ários de alguns pode ser a demonstraç­ão mais confiável para o eleitor de que pelo menos 308 deputados representa­m de fato o interesse público, e não os interesses dos que estão sempre ávidos por se diferencia­r dos restantes dos mortais.

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