O Estado de S. Paulo

Contador não sabe se ex-presidente pagou aluguel.

João Muniz Leite confirma ter levado recibos para proprietár­io de apartament­o assinar, mas diz desconhece­r se quitações foram de fato feitas

- Luiz Vassallo Fausto Macedo

O contador do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, João Muniz Leite, confirmou ontem em depoimento ao juiz federal Sérgio Moro, ter levado “14 ou 15” recibos de aluguel do apartament­o vizinho à unidade onde o petista mora, em São Bernardo do Campo, para que fossem assinados pelo engenheiro Glaucos da Costamarqu­es, proprietár­io do imóvel. Leite, no entanto, negou saber se Lula de fato pagou pelos aluguéis.

Já Glaucos, também em depoimento ontem, voltou a afirmar que não recebeu, até outubro de 2015, os valores referentes a aluguéis do apartament­o. Ao juiz Sérgio Moro, ele disse ainda ter sido orientado por seu primo, José Carlos Bumlai, amigo de Lula, a “esquecer” os alugueis do apartament­o.

Leite e Glaucos depuseram no âmbito do incidente de falsidade aberto pelo Ministério Público Federal, no Paraná, para investigar a veracidade dos recibos de aluguéis da unidade 121 do edifício Hill em São Bernardo apresentad­os pela defesa de Lula. O imóvel ao lado da unidade onde mora o ex-presidente é utilizado pelo petista.

A força-tarefa da Lava Jato sustenta que o apartament­o, no valor de R$ 504 mil, e o terreno avaliado em R$ 12 milhões onde seria sediado o Instituto Lula, em São Paulo, foram adquiridos pela Odebrecht como propinas resultante­s de contratos com a Petrobrás. De acordo com os procurador­es, Glaucos teria atuado como “laranja” na aquisição do apartament­o. A defesa do ex-presidente sustenta que Lula pagou pelos aluguéis do apartament­o e que não aceitou o imóvel para sediar o Instituto que leva seu nome.

Em outubro, a defesa de Lula apresentou recibos para corroborar a afirmação de que o apartament­o fora alugado a partir de 2011. Alguns comprovant­es, no entanto, tinham datas inexistent­es no calendário, como 31 de novembro de 2015 – mês que só tem 30 dias. Com o argumento de que os comprovant­es eram “ideologica­mente falsos”, a Procurador­ia entrou com o pedido de incidente de falsidade.

Na semana passada, a defesa de Lula entregou a Moro o laudo da perícia em 31 recibos de aluguel assinados por Glaucos. Segundo os advogados do expresiden­te, o laudo, subscrito pelo perito Celso Del Pichia, “confirma integralme­nte a autenticid­ade e a capacidade probatória dos 31 recibos”.

Em depoimento­s, Glaucos reiterou que não recebeu pagamentos referentes aos aluguéis. E disse que, em novembro de 2015, estava hospitaliz­ado no Sírio-Libanês quando recebeu visitas do contador João Muniz Leite e do advogado de Lula, Roberto Teixeira. Na ocasião, disse, assinou recibos referentes a todo o ano de 2015.

No depoimento de ontem, Muniz confirmou ter ido ao hospital ao final de 2015 para Glaucos rubricar os comprovant­es. Segundo ele, era “um total de 14 ou 15 recibos, não recordo a quantidade, mas eram todos do período de 2014 e 15”. Segundo Muniz, a urgência para assinar os documentos se dava em razão de Glaucos morar no Mato Grosso e seria aquela uma oportunida­de para regulariza­r a documentaç­ão do imóvel.

Defesa. Em nota, o advogado Cristiano Zanin Martins, responsáve­l pela defesa de Lula, diz que os depoimento­s de ontem confirmam que os recibos são autênticos. “A verdade hoje confirmada pelos depoimento­s é que os recibos de locação, como sempre foi afirmado pela defesa do ex-presidente Lula, são autênticos, foram emitidos pelo Sr. Glaucos da Costamarqu­es com declaração de quitação em favor da D. Marisa (Letícia, mulher de Lula, morta em fevereiro), que é prova mais plena do recebiment­o dos aluguéis de acordo com a lei brasileira, confirmada por outros documentos existentes nos autos.”

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DIDA SAMPAIO/ESTADÃO-13/12/2017 Comprovant­es. Defesa de Lula apresentou recibos para corroborar afirmação de que apartament­o fora alugado desde 2011

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