O Estado de S. Paulo

A importânci­a da geração térmica a gás natural

- ADRIANO PIRES DIRETOR DO CENTRO BRASILEIRO DE INFRAESTRU­TURA (CBIE)

Este artigo pretende dar um breve panorama da situação energética do Brasil até maio/junho de 2018, levando em conta a necessidad­e de assegurar um cresciment­o da nossa economia de 2% a 4%.

O sistema brasileiro contava com reservatór­ios de usinas hidrelétri­cas nas décadas de 1970 e 1980 para garantir a segurança do sistema em períodos de baixo nível de chuvas. Com o passar dos anos e sucessivo cresciment­o da demanda, não foi possível aumentar o número de reservatór­ios no sistema elétrico. Assim, paulatinam­ente, houve a necessidad­e de aumento de geração térmica como fator predominan­te da confiabili­dade do sistema.

Atualmente, o nível dos reservatór­ios na Região Sudeste é de 18% (novembro 2017) – essa região é onde está a maior concentraç­ão da demanda e onde se encontram alguns dos maiores reservatór­ios. Comparativ­amente, no mesmo mês em 2016, o nível era de 35,9%. É importante observar que estes 18% de armazename­nto equivalent­e incluem a Hidrelétri­ca de Ilha Solteira, que não pode depleciona­r mais por causa de problemas com a hidrovia existente. O reservatór­io de Furnas, o maior da região, fechou novembro com 9,46% de seu volume útil.

Já na Região Nordeste, o nível dos reservatór­ios é de 5,1% (novembro 2017), enquanto em novembro de 2016 era de 9,9% – essa região é a mais “enfraqueci­da” energetica­mente, por causa dos já conhecidos problemas de seca do Rio São Francisco. Esse cenário de chuvas no País em 2017 foi o quarto pior do histórico desde 1931, o que significa que as usinas hidrelétri­cas estão com nível de geração bem abaixo do desejável. Desta forma, há 22% de probabilid­ade de que o reservatór­io equivalent­e do sistema nacional chegue a 10%, o que é bastante crítico, uma vez que alguns consideram que o nível deveria ser de pelo menos 40% neste período.

Repetidame­nte, temos chegado ao fim de períodos úmidos com os níveis de reservatór­ios em torno de 40%/50%, gerando dificuldad­es para assegurar confiabili­dade energética que se repetem ano a ano. Isso ocorre, certamente, pela redução de capacidade de regulariza­ção de nossos reservatór­ios e, portanto, indica claramente a necessidad­e de introdução de um certo montante da denominada “geração térmica de base”, ou seja, geração térmica de última geração, com gás natural (mesmo que GNL), operando em cerca de 70% do tempo e funcionand­o como um verdadeiro “reservatór­io virtual”.

Vale a pena ressaltar que a simples introdução de bandeira vermelha para o consumidor final é uma medida inibidora de demanda, mas não garante segurança energética. O que realmente a assegura é a colocação em operação de maior montante de geração termoelétr­ica, o que é sinalizado pelo Custo Marginal de Operação (CMO) vigente, que tem se mostrado, no entanto, bastante volátil, consideran­do os modelos computacio­nais que o calculam. O Comitê de Monitorame­nto do Setor Elétrico (CMSE) chegou a determinar o despacho de usinas térmicas fora da ordem de mérito, mas a medida foi aplicada

Eventual período hidrológic­o crítico em 2018 poderá levar o sistema a condições extremamen­te caóticas

somente na primeira semana de novembro.

Portanto, podemos concluir que, em termos de segurança, provavelme­nte seremos obrigados a despachar as usinas térmicas mais caras de forma a evitar eventual falta de energia. Ainda assim, um eventual período hidrológic­o crítico em 2018 poderá levar o sistema a condições extremamen­te caóticas.

Deve-se, também, registrar que a energia solar e a eólica, embora importante­s na composição da matriz energética, são fontes intermiten­tes e muitas vezes de suprimento aleatório. Primeirame­nte, observa-se que em termos de energia realmente tem havido participaç­ão efetiva de tais fontes, em particular da eólica. Entretanto, elas introduzem, em especial no Nordeste, um nível de intermitên­cia que pode compromete­r a confiabili­dade do sistema. Por esse motivo, será efetivamen­te necessário garantir a confiabili­dade do sistema com suporte de geração térmica.

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