O Estado de S. Paulo

Na Argentina, agenda de reformas enfrenta resistênci­a

Vizinhos querem ampliar idade mínima para a aposentado­ria para 70 anos; país tenta reformas trabalhist­a e tributária

- Fernando Nakagawa ENVIADO ESPECIAL / BUENOS AIRES

Contar votos, tentar convencer deputados e muitos protestos contra e a favor. O roteiro do esforço do Palácio do Planalto em aprovar as reformas estruturai­s se repete a 2.300 quilômetro­s de Brasília. Em Buenos Aires, o governo Maurício Macri tenta executar agenda muito semelhante com as reformas da Previdênci­a, trabalhist­a e tributária. Dos dois lados da fronteira, há resistênci­a do Congresso e de parte da sociedade. Já os economista­s comemoram a coincidênc­ia da pauta.

Após 12 anos governados pelos Kirchner, a Argentina elegeu Macri em 2015. Com a defesa de um novo rumo econômico ao país, o presidente prometeu ajustar as contas públicas e dar competitiv­idade ao setor privado. Para isso, tem executado uma agenda de reformas profundas. Desde que chegou ao poder, propôs uma lei de responsabi­lidade fiscal, o Banco Central tem permitido ao dólar flutuar e o país adotou uma meta de inflação.

Nas últimas semanas após eleições parlamenta­res reforçarem a base de apoio governista, o governo acelerou essa agenda com a proposta de avançar nas três reformas que coincidem com a agenda do outro lado da fronteira.

Na Previdênci­a, Macri quer elevar a idade mínima para aposentado­ria de 65 para 70 anos – cinco a mais que a proposta para os homens no Brasil. Além disso, sugere nova fórmula para reajustar o benefício de quem já está aposentado com reajuste trimestral em vez da correção semestral. A notícia parece positiva em um país com a inflação anual na casa de 24%, mas a nova regra reduz o aumento dos benefícios no curto prazo e tem sido duramente criticada.

Com a expectativ­a de que teria apoio de até 140 deputados – 11 a mais que o necessário, o governo tentou avançar com o projeto nesta semana, mas foi impedido por uma confusão generaliza­da dentro e fora do Congresso gerada pelos opositores. Entre os manifestan­tes contrários, um dos motes foi “aqui não é o Brasil” em referência à relativame­nte fácil aprovação da reforma trabalhist­a no vizinho. Macri não desistiu e pode pedir regime de urgência para acelerar a tramitação.

Trabalhist­a. Na legislação trabalhist­a, o projeto argentino está em estágio inicial no Congresso, mas a pauta é bem parecida com a vista no Brasil: redução de custos nos processos trabalhist­as, regras para a terceiriza­ção, novo contrato de tempo parcial, banco de horas, entre outros.

Na reforma tributária – tema que ainda está incipiente no Brasil, argentinos parecem mais avançados. O projeto prevê redução de impostos para itens populares de consumo – como celulares, televisore­s e carros – e empresas, enquanto haveria aumento da carga para bebidas alcoólicas, itens de luxo e taxação sobre dividendos.

“Vivemos situação inédita de convergênc­ia da pauta reformista”, comemora o diretor da consultori­a Abeceb em Buenos Aires, Dante Sica. Para ele, o Mercosul terá menores riscos macroeconô­micos e institucio­nais se as reformas passarem. Ele nota, porém, que há risco de um país conseguir e o vizinho não.

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DAMIAN DOPACIO/AFP Nas ruas. Protesto levou à suspensão de sessão na 5ª-feira

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