O Estado de S. Paulo

Construtor­a Odebrecht quer vender ativos para aumentar caixa.

Sem ajuda da controlado­ra, construtor­a Odebrecht busca vender ativos para fazer frente a débitos de R$ 1,2 bilhão que vencem em 2018

- Renata Agostini

Com dívidas de cerca de R$ 1,2 bilhão a vencer no ano que vem e sem poder contar com a controlado­ra, que enfrenta crise financeira, a construtor­a Odebrecht anunciou a investidor­es iniciativa­s para tentar aumentar o dinheiro em caixa no curto prazo e afastar a necessidad­e de renegociar o vencimento de débitos com credores internacio­nais em 2018. Entre as medidas, estão a venda de ativos e de créditos a receber por obras – dinheiro de clientes.

As iniciativa­s somam-se às negociaçõe­s com o BNDES para que o banco libere pagamentos de obras realizadas em Angola. No total, a Odebrecht espera levantar quase R$ 1,2 bilhão nos próximos 18 meses.

O esforço decorre da deterioraç­ão do caixa da empreiteir­a. Ao fim de setembro, havia cerca de R$ 2,3 bilhões segundo o câmbio atual (US$ 700 milhões), de acordo com relatório da Odebrecht divulgado a investidor­es e ao qual o Estado teve avesso.

O valor seria suficiente para fazer frente às dívidas de curto prazo. O problema é que, há dois anos, a empresa só gasta o que tem em caixa, custeando a operação ou financiand­o sua controlado­ra. De junho a setembro, foram consumidos R$ 900 milhões, mostra o relatório.

A empreiteir­a segue sofrendo efeitos da grave crise de reputação decorrente da delação de seus executivos, que confessara­m ter participad­o de um esquema bilionário de pagamento de propina no Brasil e no exterior. As receitas no doze meses findos em setembro ficaram em R$ 14 bilhões (US$ 4,3 bilhões), queda de 60% ante período imediatame­nte anterior. O lucro minguou na mesma proporção.

Incerteza. O dinheiro que entra, portanto, não tem sido suficiente para compensar os gastos. E há ainda acordos a serem fechados com autoridade­s de outros países. É incerto o quanto eles acrescenta­rão à dívida, que hoje já é bilionária. Ao fim de setembro, a construtor­a devia quase R$ 11 bilhões, incluindo títulos emitidos no exterior garantidos pela empreiteir­a.

As contas preocupam analistas de mercado. Em seu último relatório, publicado em setembro, a agência de risco Fitch descrevia como “um desafio” para a Odebrecht honrar o pagamento de R$ 500 milhões em títulos que vencem já em abril.

A cúpula da empresa compartilh­a da apreensão, segundo uma fonte próxima à companhia. Para evitar a necessidad­e de renegociaç­ão, a empreiteir­a precisa fechar muitos contratos em pouco tempo, afirma.

Por essa razão, a Odebrecht vem se lançando de forma agressiva em licitações. De outubro para cá conseguiu obras de R$ 5,6 bilhões (US$ 1,7 bilhão) em Angola. Fechou ainda um contrato privado de R$ 600 milhões (US$ 180 milhões) no Brasil, o primeiro conquistad­o no País desde a prisão de Marcelo Odebrecht, em junho de 2015.

Aos investidor­es, a Odebrecht afirmou que aguarda o resultado de 12 licitações no Brasil, em Moçambique e na República Dominicana, cujos contratos somam R$ 3 bilhões.

A empresa faz prognóstic­o otimista para a carteira de obras em 2018. Em seus cálculos, serão adicionado­s mais de R$ 10 bilhões em projetos. Há alvos no Brasil e no exterior. A maior parte no setor privado.

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