O Estado de S. Paulo

Um cabaré tropical, 44 anos depois

Quatro décadas depois da estreia, Edy Star lança 2º álbum com participaç­ão de Caetano e Ney Matogrosso

- Pedro Antunes

“Meu querido, em 20 dias eu completo 80 anos”, diz o capricorni­ano Edivaldo Souza, um nome dado pelos pais que não diz muito. O quase oitentão é conhecido há 45 anos pelo nome artístico de Edy Star. “Se amigas minhas não sabem quem é Elis Regina, como eu posso esperar que as pessoas se lembrem de quem eu sou?”, segue o artista nascido em Juazeiro, na Bahia.

É fato que Edy Star é uma figura que desaparece­u do faro popular há algum tempo. Foi parceiro de Raul Seixas no lançamento de Sociedade da Grã-Ordem Kavernista Apresenta Sessão das 10, um álbum de 1971 criado por Raulzito como resposta a Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band, dos Beatles, com a participaç­ão também de Sérgio Sampaio e Míriam Batucada. No ano seguinte, surgiu com o álbum Sweet Edy, a estreia na qual ele cantava canções de Gilberto Gil, Erasmo e o Roberto Carlos, Caetano Veloso, e Moraes Moreira e Galvão.

Sweet Edy ganhou uma reedição em 2012, pelo selo Joia Moderna, algo que fez Edy chorar ao ter um CD seu em mãos, logo após decidir voltar de vez a São Paulo depois de 18 anos morando na Espanha, como diretor artístico de um cabaré, em Madri.

Edy nunca foi mainstream, caminhou na margem, sempre, embora sua importânci­a para a música brasileira seja notável. Ajudou a introduzir o glam no rock nacional e foi um dos primeiros artistas brasileiro­s a revelarem a homossexua­lidade.

Há alguns anos de volta a São Paulo, Edy reviu a ideia de fazer um segundo disco em algumas ocasiões. “Às vezes, queria fazer um disco, noutras não”, explica ele, em uma das 13 ligações feita pelo Estado para o seu celular – as chamadas eram curiosamen­te interrompi­das, seguidamen­te, após alguns minutos de conexão. Há 20 dias morador de um apartament­o no encontro das Avenidas Duque de Caxias e São João, Edy ainda não tem telefone fixo e internet em casa. E caçoa disso: “Eles querem que eu comprove residência, mas como, se eu acabei de me mudar?”, diz. A cada nova ligação, ele ri mais da situação. “Tem que fazer galhofa”, diz. Já no fim da entrevista, Edy já retomava a fala como se a interrupçã­o não existisse. “E não conhecia as pessoas, não me sentia bem. Até que surgiu essa oportunida­de de gravar com o Zeca Baleiro”, conta.

Baleiro, na verdade, respondeu a um chamado do próprio Edy no Facebook, no qual anunciava que queria gravar um disco e buscava parcerias. Ambos já haviam feito alguns shows em conjunto desde que Edy passou a voltar ao Brasil para apresentaç­ões na Virada Cultural, desde 2009. Baleiro assina a produção e lança, pela sua gravadora, a Saravá Discos, Cabaré Star, o segundo disco de carreira de Edy, lançado 44 anos depois da sua estreia. “Embora o Zeca seja de uma geração posterior à minha, nós nos entendemos muito bem musicalmen­te”, relembra Edy.

Figura carismátic­a, o artista reuniu um time invejável de participaç­ões para esse trabalho. Ney Matogrosso canta na divertida Peba Na Pimenta; Angela Maria e Zeca Baleiro participam dos vocais do tango sofridíssi­mo Dezessete Vezes, de autoria de Baleiro; Filipe Catto contrapõe, com agudos cristalino­s, à rouquidão charmosa de Edy em Não Tenho Medo; Emílio Santiago, que morreu em 2013, havia emprestado sua voz para Ave Maria No Morro; e, por fim, há Caetano Veloso.

Caê surge direta ou indiretame­nte em três faixas. Em Se o Cantor Calar (de Zé Rodrix e Maria Lúcia Viana), ele divide os vocais com Edy. Depois, em Merda, uma música do próprio filho da Dona Canô, ele recita alguns versos. Por fim, É Edy quem desafia Caetano para um embate amigável. Se, para um, A Bossa Nova É Foda, como cantado no disco Abraçaço, de 2013, Edy retruca com Rock’N’Roll É Fodaço, um rock impertinen­te de um artista que levou 44 anos para voltar a gravar, mas não perdeu a diversão jovial a cantar seu cabaré tropical, em pleno 2017. “Se não der risada, o que me resta?”, ele diz. E ri. E a ligação cai de novo.

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GAL OPPIDO Companhia. Edy voltou ao estúdio ao encontrar em Zeca Baleiro a parceria musical ideal
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Saravá Discos; R$ 26,90 e streaming
EDY STAR ‘Cabaré Star’ Saravá Discos; R$ 26,90 e streaming

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