O Estado de S. Paulo

‘SOU CAMPEÃO MUNDIAL’, DIZ ÚLTIMO HERÓI DE 1951

Ex-atacante do Palmeiras relembra a conquista, cujo reconhecim­ento pela Fifa percorre idas e vindas

- Gonçalo Junior

Orelógio dourado com pulseira de couro marrom de José Carlos Silveira Braga, o Brandãozin­ho, marca 15h40. A exemplo do que vem acontecend­o nos últimos 65 anos, os ponteiros marcam a hora certa. Ao longo de tanto tempo, o objeto ganhou outra dimensão e, por isso, não desgruda do braço fino e forte do exatleta de 87 anos. O relógio foi o presente pela conquista da Copa Rio, torneio realizado no País em 1951. Brandãozin­ho é o último atleta vivo da conquista do Palmeiras.

No primeiro andar de um prédio na região nobre de Santos, Brandãozin­ho mostra outras coisas que atestam o passado vitorioso no clube. São recortes de jornal, revistas e fotos, organizado­s por sua mulher, a francesa Suzanne, há mais de seis décadas. Está tudo ali.

As mãos dele estão um pouco trêmulas por causa dos medicament­os após uma cirurgia de catarata. É difícil se sentar na cadeira de balanço. Mas a memória não bambeia. “Até hoje ainda sinto a emoção”, recorda.

A Copa Rio foi uma tentativa de resgatar o interesse dos brasileiro­s pelo futebol depois do desastre da Copa de 1950. Um remédio para a dor do Maracanazo. Com o apoio da Fifa, o torneio reuniu Nice, Nacional (do Uruguai), Estrela Vermelha, entre outros. O Palmeiras fez a final com a italiana Juventus. Na ida, 1 a 0 no Pacaembu à noite, uma novidade para os europeus. No Maracanã, empate por 2 a 2 diante de 150 mil. Palmeiras campeão!

Ele era um atacante veloz, de beirada do campo, que jogou ao lado de Jair Rosa Pinto, Oberdan Cattani e Waldemir Fiúme. Não era titular, mas se tornou o porta-voz do título mítico.

As lembranças emolduram uma das maiores polêmicas da história do Palmeiras. O reconhecim­ento do título pela Fifa percorre idas e vindas nas últimas décadas. Em outubro, a entidade chancelou só os títulos a partir de 1960. Os palmeirens­es rebatem. “O Palmeiras é o campeão do mundo de 1951. Tal fato foi reconhecid­o pela Fifa, que o homologou após analisar uma série de materiais. A conquista está representa­da por uma estrela em nosso uniforme”, afirma o presidente Mauricio Galiotte ao Estado. “Sou campeão do mundo”, diz Brandãozin­ho com o punho elevado e enfeitado pelo relógio dourado.

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TATIANA LAFRAIA/ESTADÃO Velhos tempos. Brandãozin­ho revive a conquista de 1951 e se considera campeão mundial pelo Palmeiras
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