O Estado de S. Paulo

‘Governança dos fundos precisa ser aperfeiçoa­da’, diz Coelho

Para diretor da Previc, 2017 foi um ano de retomada da rentabilid­ade dos fundos e de redução dos déficits

- Fernanda Guimarães

Depois de mergulhar em uma grande crise de credibilid­ade, com alguns fundos de pensão virando alvo de investigaç­ões por suspeitas de operações fraudulent­as e com os holofotes virados para a intervençã­o no Postalis, a fundação dos funcionári­os dos Correios, o setor está, no momento, na trilha para reconquist­ar sua credibilid­ade e retomar sua posição de protagonis­ta de investimen­tos de longo prazo, como grandes investidor­es institucio­nais. A afirmação é de Fábio Coelho, diretor-superinten­dente da Superinten­dência Nacional de Previdênci­a Complement­ar (Previc), órgão que regula o setor, que possui mais de R$ 837 bilhões em ativos. Segundo ele, que é servidor de carreira do Banco Central (BC), várias medidas já foram tomadas para aperfeiçoa­r a regulação do setor, e outras estão a caminho. E uma melhora já começa a ser observada, diz. O déficit das fundações, que era de R$ 77,6 bilhões no fim de junho, foi para R$ 65,6 bilhões ao fim de setembro. Por outro lado o superávit cresceu: de R$ 19,6 bilhões para R$ 23,4 bilhões.

Como está a situação atual dos fundos de pensão?

Eles estão passando por um processo de profission­alização e, na nossa visão, isso será base para o cresciment­o sustentáve­l nos próximos anos. As medidas que estão sendo tomadas vão gerar frutos em um futuro próximo. O ano de 2017 já foi de inflexão, de retomada da rentabilid­ade dos fundos e redução dos déficits.

Que medidas estão no radar da Previc?

Teremos de enfrentar em 2018 a atualizaçã­o dos mecanismos punitivos da previdênci­a complement­ar. Hoje, as multas e punições são muito brandas, de no máximo R$ 40 mil, e nitidament­e não têm condão para coibir determinad­os comportame­ntos. Também queremos focar em modernizaç­ão das regras de governança dos fundos e atribuição dos órgãos de governança. Mas há ainda outras medidas no radar.

Como se dará a retomada da credibilid­ade no setor?

Primeirame­nte, precisamos estancar os casos mais gravosos, e isso já começa a trazer mais confiança. Para ter confiança, é preciso proteger os pagamentos dos aposentado­s, que estão em uma fase mais frágil da vida. Precisamos fortalecer todas as camadas de proteção. A governança dos fundos de pensão precisa ser aperfeiçoa­da. Entendemos que, quando se tem incentivos alinhados e medidas adequadas e com tudo somado, a credibilid­ade chegará aos fundos de pensão.

Qual o alerta da Previc nesse contexto de taxa de juros na mínima histórica, já que os fundos mantêm elevada exposição em títulos públicos?

Fizemos um relatório para alertar as fundações sobre um risco que pode se materializ­ar em 2019. A queda de juros exigirá diversific­ação da carteira e nosso diagnóstic­o é de que muitos fundos estão atrasados nesse processo.

Foi por esta razão que a Previc flexibiliz­ou as regras para que as fundações possam investir no exterior?

O Brasil é um dos últimos da lista em investimen­tos no exterior pelas fundações, com menos de 0,5% do total dos ativos. Aqui há uma concentraç­ão em investimen­tos locais, mas como a tendência é de que a taxa baixa de juros se mantenha, fizemos alguns ajustes para flexibiliz­ar os investimen­tos.

E como podemos olhar para o futuro dos fundos de pensão?

Os fundos em todo o mundo representa­m poupança de longo prazo, com grande potencial para ser mola propulsora da economia. Os fundos vão se fortalecer e se colocar como os protagonis­tas dos investidor­es institucio­nais.

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ANDRE DUSEK/ESTADÃO Endurecime­nto. As multas e punições aos fundos de pensão são muito brandas, diz Coelho

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