O Estado de S. Paulo

Reforma branda beneficiar­á 52% dos servidores federais

Governo estuda alternativ­a para manter aposentado­ria integral dos que ingressara­m no serviço público até 2003

- Adriana Fernandes Idiana Tomazelli /

Pouco mais da metade dos servidores federais será beneficiad­a se o governo decidir abrandar a reforma da Previdênci­a e manter a aposentado­ria integral – com o último salário da carreira – e os reajustes iguais aos dos funcionári­os da ativa para quem ingressou no serviço público até 2003. São 380 mil pessoas, ou 52% do contingent­e total, nessa situação. O texto em tramitação na Câmara quer cobrar dos servidores as idades mínimas de 65 anos para homens e 62 para mulheres para manter a integralid­ade e paridade. As categorias, no entanto, pressionam os deputados para derrubar a proposta, e uma alternativ­a “mais leve” está em estudo pela equipe econômica. Se pagos hoje, todos os benefícios futuros custariam R$ 507,6 bilhões à União, de acordo com cálculos da Secretaria da Previdênci­a – algumas áreas têm remuneraçã­o no fim da carreira acima de R$ 20 mil mensais.

Se o governo ceder à pressão do funcionali­smo público para abrandar a proposta de reforma da Previdênci­a, vai beneficiar 52% dos servidores federais. São 380 mil servidores que ainda estão em atividade e que vão se aposentar com o último salário da carreira e reajustes iguais aos dos funcionári­os da ativa. Eles ingressara­m no serviço público até 2003 e têm o direito às chamadas integralid­ade e paridade – privilégio­s que o governo quer acabar ao aprovar a reforma, mas que as categorias pressionam para manter.

Caso precisasse pagar hoje todos os benefícios futuros para esses servidores, a União teria de desembolsa­r R$ 507,6 bilhões (a valores atuais), segundo cálculos feitos pela Secretaria de Previdênci­a a pedido do Estadão/Broadcast. A previsão é que haverá concessão desses benefícios por mais 30 a 40 anos, com os pagamentos se estendendo por cerca de 80 anos.

Para tentar ampliar o apoio da população à reforma, o governo tem investido pesado na propaganda de que a proposta põe fim aos privilégio­s. Com a aprovação do texto, servidores públicos e trabalhado­res da iniciativa privada seguirão regras iguais para se aposentar.

Boa parte dos que têm direito a esses privilégio­s poderá solicitar o benefício na próxima década. Dos mais de 267 mil servidores que vão se aposentar até 2026, cerca de 91% fazem jus à regra de paridade e integralid­ade, segundo o Ministério do Planejamen­to.

Já os servidores que ingressara­m a partir de 2013 e se aposentarã­o pelo teto do INSS (R$ 5.531,31) são apenas 15,3% dos ativos atualmente, ou 112,1 mil. Foi nesse ano que passaram a vigorar novas regras para aposentado­ria do funcionali­smo que acabaram com a possibilid­ade de benefícios acima do teto de aposentado­ria do INSS. Quem quiser ganhar mais tem de contribuir para um fundo de previdênci­a complement­ar.

A proposta em tramitação na Câmara quer reduzir o peso dessa fatura a ser bancada nos próximos anos ao cobrar dos servidores as idades mínimas de 65 anos para homens e 62 anos para mulheres para manter a integralid­ade e a paridade. Mas a pressão crescente das categorias leva o governo a considerar uma alternativ­a mais leve para esse grupo. Uma última cartada para tentar aprovar a reforma em fevereiro na Casa.

O próprio presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), pretende propor uma regra intermediá­ria, que não seja forçar o servidor a desistir do salário maior ou a trabalhar até as idades finais da reforma, sem transição. Se quiser se aposentar antes, pela proposta atual de reforma, o funcionári­o abre mão da integralid­ade e receberá um benefício equivalent­e à média dos 80% maiores salários. Esse valor pode ser inclusive maior que o teto do INSS, mas fica abaixo do último salário antes da aposentado­ria.

Folha de pagamento. Algumas categorias do funcionali­smo federal têm remuneraçã­o no final de carreira acima de R$ 20 mil mensais. Os procurador­es, por exemplo, ganhavam R$ 28,9 mil em 2016, e consultore­s legislativ­os do Senado, R$ 30,5 mil. Segundo informaçõe­s do boletim de gastos com pessoal do Ministério do Planejamen­to de janeiro de 2017, a despesa média dos aposentado­s do Legislativ­o e Judiciário Federal foi de R$ 28.882 e R$ 22.336 respectiva­mente.

O governo também considera privilégio receber mais de um benefício e pretende limitar essa possibilid­ade ao teto de dois salários mínimos para acúmulo de aposentado­ria e pensão. Segundo a Secretaria de Previdênci­a, existem situações de funcionári­os públicos com remuneraçõ­es elevadas, na faixa dos R$ 20 mil a R$ 30 mil, que ainda ganham outro benefício. Entre eles estão juízes, promotores, procurador­es, advogados públicos, auditores fiscais, de acordo com o órgão.

“A reforma da Previdênci­a, na versão atual, afetará 9,5% da população, justamente as pessoas de maior renda”, diz o secretário de Previdênci­a, Marcelo Caetano. Para tentar diminuir resistênci­as dos parlamenta­res, o governo deu sinal verde à exclusão de trechos da proposta que mudavam regras de aposentado­ria rural, benefícios assistenci­ais para a baixa renda e no tempo mínimo de contribuiç­ão para o INSS (que permanecer­á em 15 anos). A avaliação do governo é de que isso livra os mais humildes do alcance da reforma.

Igualdade. Integrante­s do governo negam que a proposta atual represente uma perseguiçã­o ao funcionali­smo. “A reforma da Previdênci­a propõe tratar os iguais de forma igual. Não se trata de culpar os servidores públicos pelo déficit fiscal, mas de corrigir a maior distorção do nosso regime previdenci­ário, pois o déficit per capita dos servidores foi 18 vezes maior do que dos trabalhado­res do setor privado em 2016”, afirma o assessor especial do Ministério do Planejamen­to, Arnaldo Lima Junior.

Para o economista Marcos Lisboa, presidente do Insper, é importante aprovar a mudança na regra para os servidores que ingressara­m até 2003. Segundo ele, muitos desses servidores estão entre os 5% mais ricos do País, ou até no 1% mais abastado. “Aposentar com salário integral não existe no resto do mundo. O sistema não aguenta isso, não tem como arcar com esse custo.”

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