O Estado de S. Paulo

Distribuiç­ão de droga anti-HIV começa este mês

Remédio para prevenção, com foco em jovem gay, será oferecido gratuitame­nte em 11 Estados

- Roberta Jansen

Com o objetivo de reduzir o aumento de novos casos de HIV entre jovens gays, o governo brasileiro começa a distribuir este mês às populações mais vulnerávei­s a droga Truvada, capaz de prevenir a infecção pelo vírus. Será o primeiro país da América Latina a adotar regularmen­te o uso do medicament­o.

Parte do Programa de Profilaxia Pré-Exposição (Prep), ele será oferecido gratuitame­nte em 35 centros de saúde de 11 Estados. São dez mil tratamento­s preventivo­s disponívei­s inicialmen­te. Estudo inédito, feito em parceria entre o Programa de Aids da ONU (Unaids) e o aplicativo de encontros gays Hornet, com 3.218 usuários, revelou que pelo menos 27% dos entrevista­dos mantêm relações sem preservati­vos. Segundo o trabalho, 36% estariam dispostos a usar a Prep.

Entre 2006 e o ano passado, o total de casos de aids entre homens de 15 a 19 anos praticamen­te triplicou, chegando a 6,7 casos por 100 mil habitantes, segundo o Unaids. Entre homens de 20 a 24 anos, o número quase dobrou, alcançando 33,9 casos por 100 mil. Os jovens são menos propensos também a usar o preservati­vo. Entre os soropositi­vos dessa faixa, está a menor taxa de pessoas em tratamento: 34%, ante 14% na faixa acima dos 60 anos.

“Porcentual­mente, o grupo de 15 a 24 anos é onde mais tem crescido o número de casos de HIV”, afirmou a diretora do Programa de Aids do Ministério da Saúde, Adele Benzaken. “Mas não é só isso: os jovens dessa faixa etária são também os que menos se cuidam. Nossa expectativ­a é ter um impacto significat­ivo entre eles.”

Neste primeiro momento, a Prep também será oferecida a outros grupos considerad­os mais vulnerávei­s, como profission­ais do sexo, pessoas trans, usuários de drogas e aqueles que se relacionam sexualment­e com parceiros soropositi­vos. Mas nem todas as pessoas desses grupos são candidatas à profilaxia, alerta Adele. Por isso, os serviços de saúde farão uma triagem dos candidatos.

Os defensores da técnica dizem que a experiênci­a brasileira será crucial para mostrar ao mundo os benefícios do investimen­to na prevenção. O uso do medicament­o combinado foi aprovado em 2012 pelos Estados Unidos. “Comunidade­s inteiras estão usando a Prep com resultados muito claros na redução de risco”, diz o infectolog­ista Estevão Portella, da Fiocruz.

Perigo. Mas os críticos do programa temem que ele estimule o sexo sem preservati­vos. “Não posso ser contra um medicament­o que tem eficácia comprovada”, ressaltou o urologista Alfredo Canalini, da Sociedade Brasileira de Urologia. “No entanto, notamos no consultóri­o que, com a chegada de coquetéis antiaids, quando as pessoas passaram a ter maior sensação de segurança e passaram a usar menos preservati­vos, vimos aumentar uma série de outras doenças, como sífilis.”

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DADO GALDIERI/THE NEW YORK TIMES Truvada. Primeiro aval foi dos Estados Unidos em 2012

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