O Estado de S. Paulo

O abismo aumenta...

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Não importa se se chama Copa Interconti­nental, Taça Toyota, Mundial de Clubes ou tenha outro nome. Tanto faz se patrocinad­o por montadora de automóvel ou governo. Tampouco muda o valor e significad­o, se organizado e reconhecid­o ou não pela Fifa.

A verdade óbvia e doída, renovada a cada ano, escancara o abismo no duelo entre europeus e sul-americanos na hegemonia do universo do futebol. A turma “lá de cima” aprofunda a vocação para ser multinacio­nal da bola e tem até certo tédio ao topar com os mortais desta parte do planeta, num tira-teima singular.

O enfado apareceu, por exemplo, quando o Barcelona amassou o Santos (2011) ou passou pelo River Plate (2015). E ainda na ocasião do confronto entre Real e San Lorenzo (2014). Sem contar que, no meio do caminho, houve finais inusitadas com Mazembe, Raja Casablanca e Kashima Antlers. (Os japoneses, por sinal, foram os que mais deram trabalho, ao caírem para o Real na prorrogaçã­o, no ano passado, com o placar de 4 a 2.)

Pois bem, a atitude quase blasè de novo deu o ar da graça, na noite de ontem, em Abu Dabi, no jogo entre Real e Grêmio. Os espanhóis levaram o troféu para a sede pela sexta vez (computadas todas as versões), sem se esfalfarem em campo. Parecia que estavam lá nos Emirados Árabes para cumprir compromiss­o protocolar, entre uma rodada e outra do campeonato deles.

Exagero? Não. Saíram de casa uma semana atrás, depois de lascarem cinco no Sevilla. Daí, se livraram de Al Jazira e Grêmio, na aventura nas Arábias, passaram a mão na taça, encheram as burras com mais grana e hoje embarcam de volta para Madri, porque no próximo sábado tem clássico com o Barcelona. E, na realidade paralela em que vivem, essa é a parada que vale.

O rival brasileiro não foi páreo para a legião estrangeir­a orientada por Zidane. O Grêmio esboçou pressão por, vá lá, 5 ou 6 minutos. O tira-gosto se assemelhav­a à postura diante do Lanús, na Argentina, na finalíssim­a da Libertador­es. Ilusão que a brisa primeira levou. O Real não se descompôs e, antes dos 15, já mandava e desmandava.

Marcelo, Casemiro, Kroos fecharam espaços; Modric (o melhor na jornada) organizava o meio-campo e o Real garantiu posse de bola sem suar a camisa, e rondou como quis a área tricolor. Não teve voracidade e pontaria – tanto que Grohe não se destacou. Porém, o gigante colecionou 20 finalizaçõ­es e, em nenhum momento, se sentiu ameaçado. Navas não viu a bola.

O Grêmio deu um chute a gol, em cobrança de falta na etapa inicial. No mais ficou atônito na marcação e sem saber o que fazer, quando ganhava divididas e se lhe oferecia contragolp­e. Branco total, insuperáve­l. Luan, a esperança da trupe nacional, sentiu o peso da missão e desaparece­u, como quase todos os colegas. Na zaga, Geromel foi estupendo, seguido por Kanemann.

Estaria a esquecer de Cristiano Ronaldo? Ó pá, claro que não. O português não foi maravilhos­o; ao contrário, esteve até contido nos dribles e arremates. No entanto, gênio precisa de um lampejo, que apareceu no início do segundo tempo, ao bater falta que havia sofrido. Chute colocado, barreira aberta, gol e fim de conversa. Quem tem Cristiano não fica a ver navios na hora da decisão. Ainda demora para desbancarm­os os europeus, como fizemos tantas vezes num doce passado, em que o desequilíb­rio estava a nosso favor.

Pausa. A coluna de hoje encerra minha 13.ª temporada consecutiv­a como articulist­a do Estadão. Em 2017, foram em torno de 90 artigos, que se juntam aos mais de 1000 já publicados por aqui. Obrigado ao leitor por tanto carinho, paciência e interação. Agora, respiro – e o retorno na segunda quinzena de janeiro. Um sereno Natal e Feliz 2018 para todos nós.

Vitória do Real sobre o Grêmio só acentua o óbvio: europeus são multinacio­nais da bola

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