O Estado de S. Paulo

Países do Mercosul farão acordo de compras governamen­tais

Assinatura deve ocorrer durante a reunião de cúpula dos países do bloco e pode abrir mercado de US$ 80 bi

- Lu Aiko Otta /

O Brasil sedia nesta semana a 51.ª reunião de cúpula do Mercosul na expectativ­a de assinar um acordo de compras governamen­tais que pode abrir um mercado de US$ 80 bilhões. Esse é o valor de compras anuais dos governos da Argentina, Paraguai e Uruguai. Com o entendimen­to, as empresas brasileira­s poderão participar de licitações nesses países em igualdade de condições com companhias locais.

As negociaçõe­s não estão concluídas, segundo o embaixador Paulo Estivallet de Mesquita, subsecretá­rio-geral de América Latina e Caribe do Ministério das Relações Exteriores. “Estamos fazendo o máximo para assiná-lo na cúpula, mas, se não sair agora, sai logo depois.”

A cúpula deverá também aprovar uma proposta brasileira que regula a aplicação dos direitos dos consumidor­es dentro do bloco. Esse acordo cobre também as compras on line.

O acordo de compras governamen­tais busca neutraliza­r regras comumente adotadas pelos países para privilegia­r empresas locais nas licitações públicas, segundo o gerente de Negociaçõe­s Internacio­nais da Confederaç­ão Nacional da Indústria (CNI), Fabrizio Panzini.

Por exemplo: quando vai adquirir produtos ou serviços, o Uruguai dá uma vantagem de 5% a 8% para suas empresas. Ou seja, compra da empresa local mesmo se houver concorrent­e estrangeir­o com preço até 8% menor. Na Argentina, essa margem de preferênci­a é de 7%. No Paraguai é de 20%.

O Brasil tem margem de preferênci­a para as empresas nacionais que chega a 25%, amparada numa política criada em 2010. Porém, essas margens não funcionam mais na prática porque foram fixadas em decretos presidenci­ais que já expiraram.

Na falta de acordo de compras governamen­tais, outros procedimen­tos das licitações funcionam como barreira aos estrangeir­os, como a divulgação de editais, restrita ao mercado local. Para a CNI, o acordo é positivo porque potencialm­ente abre um novo mercado. “É um valor substantiv­o de compras que esses países fazem”, disse Panzini. “Estamos confiantes e ansiosos que seja assinado.”

Há, porém, outro lado da moeda. “Vamos abrir um mercado grande para, em contrapart­ida, ter acesso a mercados menores”, disse o presidente executivo da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), Fernando Pimentel. Segundo a CNI, o mercado brasileiro é de R$ 160 bilhões, o dobro da soma dos demais sócios.

Apesar disso, Pimentel considera o acordo como tendência “irreversív­el”, pois as negociaçõe­s entre o Mercosul e a União Europeia também contemplam um capítulo de compras governamen­tais. Ou seja, as empresas europeias vão entrar nas licitações dos governos da região. “Não fazia sentido ter esse acordo com a Europa e não ter no próprio Mercosul”.

Um tema deverá causar desconfort­o nos bastidores da reunião de cúpula: a decisão do Uruguai de cobrar taxa de 2% sobre entrada de mercadoria­s vindas de outros países do bloco. É algo na linha contrária da própria concepção do Mercosul.

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MARCOS BRINDICCI/REUTERS-10/12/2017 Cúpula. Temer e Macri estarão na 51ª reunião do bloco

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